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A linha da felicidade


É simplesmente impressionante como uma linha pode dividir a felicidade e a infelicidade, eu literalmente compreendo isso; pois isso foi um fato na minha vida. Irei começar a descrever... Quando eu era criança eu morava no mesmo bairro, entretanto morava do outro lado da faixa. Já não havia mais o preconceito e divisão aqui, no lugar em que escrevo. Lá eu vivi muitas coisas maravilhosas, embora a minha passagem tenha sido rápida naquele lugar, eu amava muito e amo, era simplesmente lindo, exceto o barulho do trem, todavia vejo isso como o preço de morar lá.

O pôr do sol era lindo, tinha os trilhos, a casa era pequena, porém aconchegante, havia um estreito espaço para brincar e um pouco de areia, que era a minha felicidade. Impressionante, que quando estamos vivendo a infância apreciamos tudo, pegamos as pedras e a areia e construímos um castelo, pois nossa visão é além do que vemos. Depois o mundo te tira a venda e coloca um óculos com lentes de grau e você deixa de imaginar, para ver tudo o que se passa ao seu redor com lentidão. Daí nos tornamos adultos chatos e muitas vezes insignificantes.

Eu perdi a venda com 6 anos, não foi uma simples descoberta. Eu descobri que Papai Noel e o coelhinho da páscoa não existiam e que Deus nem sempre irá ouvir as minhas orações, talvez ele esteja ocupado, porém era uma má fase, porque a venda caiu por completo e parece que vi um sol pela primeira vez, que me fez queimar metade da minha retina e toda a minha esperança foi embora. Sabe o que aconteceu depois que atravessei a linha e me mudei para o outro lado? Tudo desabou.

Igreja, assédio, perdi muitas pessoas e assim por diante. Quem diria que uma simples linha poderia fazer tanta diferença?! Quando atravesso a linha volto a ser uma garotinha de 4 anos e quando estou deste lado, eu me transformo em uma senhora. Estes são os meus dois extremos incontroláveis. Não me julgue, você não sabe o porquê da existência deles.

Criado por Erika Galvão, 2024.

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