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Sem grandes ambições, almejo dançar na chuva como na infância. Eu e o meu irmão corríamos na chuva, pulávamos nas poças de água e dávamos largos sorrisos ingênuos, sem imaginar o que estava por vir.
Aquilo era mágico, cada gota na testa era motivo para sorrirmos e cantarmos músicas sem sentido com a palavra chuva. Realmente parecia dois idiotas, entretanto apreciamos cada momento. Eu perdi vários banhos de chuva e os que tomei, eu não soube apreciar igual aos anteriores. Perdi o elo com o meu irmão, o que torna os banhos de chuva sem graça, porque meu irmão era o bem mais valioso, único amigo e sempre estava em todos os bons e maus momentos.
Hoje, vivemos novos momentos e estamos distantes; não sei em qual parte ocorreu isso e nós erramos, sinto falta do meu irmão amigo, pois estamos unidos somente pelo sangue. Desconheço ele ultimamente, apenas convivemos na mesma casa. Eu queria poder ajudar ele em suas crises de choro, mas não sei como, porque ele não é o mesmo garotinho que brincava comigo. Ele se transformou em um homem forte.
Eu queria dançar na chuva ou com a luz de um belo pôr-do-sol, seria magnífico uma aventura ou o simples fato de eu respirar algo natural e me sentir calma, sem respirar ansiedade. Chorar e rir ao mesmo tempo, expressar o que sinto naquele momento, sem medo e vergonha. Me conectar com o meu eu mais profundo e obscuro para poder mostrar a luz ou lavá-los com aquela água pura. Me lavar de tudo de ruim, das minhas lembranças tortuosas.
Eu queria encontrar o meu eu e abraça-lo com todas as minhas forças e dizer que está seguro aqui e acabou tudo aquilo. Porque hoje, ele diz: “Olá!”. E corre para o vazio escuro. Ele é o meu silêncio e o grito de socorro; como ele consegue ser assim? É simples, muito tempo calado observando tudo ao redor e acumulando, sua revolta e insanidade, se tornaram incontrolável.
Não é sem razão, ao contrário tem razão, é isso que me faz perder a minha.