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Bi 🖤

O meu irmão caçula sempre teve uma alma pura, desde criança quando ele aprontava assumia a culpa. Hoje, mesmo que ele já seja um homem, ainda vejo bastante coisas de infância na personalidade dele. Quando ele era muito pequeno pegou um chiclete (sem avisar) a minha mãe, quando ela questionou ele assumiu e disse que a dona do mercado ia dar se ele pedisse mesmo e não creio que o verbo “roubar” seja adequado para essa situação. A reação de todos foi de surpresa por ele ter se justificado com um bom argumento mesmo ainda pequeno, depois de uma longa conversa com a minha mãe e ele, ele se desculpou sem ter compreendido muito bem a diferença e esse lado ele preserva até hoje, de ser honesto. Ele costumava ser uma criança levada, cansativa, fujão e sem duplo sentido. Recentemente encontrei o caderno de religião dele do 6° ano, com perguntas que tentavam abordar sobre a nossa própria filosofia para definirmos coisas comuns e sentimentos, já a religião era voltada para o cristianismo como sempre.

A fé do meu irmão era inabalável, mesmo sendo pequeno e sonhando em ser um jogador de futebol, andava sempre com uma bola colada no pé. Quando diziam que um adventista não poderia jogar profissionalmente por causa do sábado, ele dizia que ia nos jogos aos sábados para evangelizar no estádio e era um plano inocente. A agitação dele podia ser mal interpretada, porém só quem conhece sabe do tamanho da bondade dele, ele sempre foi mais amável e apegado com a minha mãe. Sempre demonstrou melhor do que eu, discutimos tantas vezes, ao longo do tempo nos afastamos e não sei muito sobre ele atualmente, entretanto sei que aquela parte existe ainda e reconheço quando ele está fingindo ou escuto ele choramingando pelos cantos, se necessário deixo um Rivotril para amenizar a dor dele quando fica intensa.

Ao contrário dele, eu não sou tão paciente, sinto que existe uma ligação mesmo não sendo irmãos gêmeos, passei a analisar ele e entender os sinais. Não sei se ele senti o mesmo, mas é ótimo sentir essa ligação com alguém pelo nosso sangue, pois tenho medo de algo dar errado ou de alguém ferir ele, por eu ser a única Malévola que sabe jogar quando é necessário e ele não vê maldade nas pessoas, além de perdoar pessoas perversas que só olham o próprio umbigo. Sou a irmã mais velha do atual casamento dos nossos pais, sempre fui a encarregada de cuidar dele e espero não falhar com ele. Essa sempre será a minha prioridade, nem que seja a última coisa que eu faça, o tempo passou e ainda vejo a inocência nele, porque eu não superaria muita gente tão fácil ao ponto de confiar novamente, por mais amor que tenha existido. O mundo tem sorte por ter alguém assim, que seja luz no meio de tanta maldade obscura de nossas almas.


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Criado por Erika Galvão, 2024.

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