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A correnteza não te salvará

Não morra, quase adiantei e me superei. Sabe aquele papo do cachorro, gato, peixe, família, amigos, namorado, marido, filho ou qualquer outra coisa; a minha mãe nunca mais seria a mesma e consigo imaginar parte dessa dor e ela se medicando, principalmente se automedicando com os meus remédios e sofrendo tanto quanto eu. Ninguém nos conta sobre a impotência, o quanto ficamos perdidos e largados depois de atentamos contra nós mesmos. Me senti um fantasma, parecia que estava apenas observando e a sensação de ser invisível aumentou significativamente. A minha psicóloga precisou tratar isso, até eu chegar em um ponto que não há sentido algum e a mistura de sentimentos se intensificam em um mundo completamente ferrado, então era eu e todo o resto fodido. As pessoas falam tanto em prevenção, que é crucial e muito importante (claro que sim), mas ninguém fala no fracasso pós suicídio, as pessoas ficam tão realizadas e felizes pela vida da pessoa, entretanto não imagina o quanto a cabeça fica bagunçada e confusa sobre tudo. Se você conhece pessoas depressivas, você provavelmente já ouviu: "Eu não quero morrer, mas quero acabar com a minha dor e sofrimento." É uma frase difícil de compreender, como assim acabar com a dor psicológica? Te leva a crises e coisas mais graves. Eu queria morrer para acabar com a minha dor, mas não queria perder a minha vida, é algo tão intenso e difícil de lidar ao ponto de te fazer as pessoas questionarem a sua sanidade, eu sabia da ambiguidade e confusão.

Tudo se torna questionamento, a existência, momentos, o nosso valor e grau de importância, afinal o que aconteceria? Essa é uma eterna pergunta sem resposta, o vazio aumentou, somando o fracasso e coisas que inicialmente não pensamos, principalmente no nosso valor, me disseram que era normal isso e nunca fui avisada disso. Nunca me imaginei passando por isso, eu sempre imaginei o desespero de alguém estar decidido a dar fim e a falta que fará, porém nunca considerei essa possibilidade da sobrevivência, não é atoa que muitos chamam de renascimento para reestabelecer toda a sua vida sem tantos questionamentos sobre tudo. No meu caso, eu apenas sobrevivi, não obtive respostas que eu esperava que a morte me daria e sinceramente ela não iria me dar, pode ter certeza que morrer não é sempre uma solução, exceto eutanásia para doenças degenerativas e principalmente dolorosas. A gente só encontra respostas vivo e a cura para todos está na medicação, pesquisas, consultas, fé ou crenças variadas. Recentemente li sobre uma pesquisa no estado do Rio Grande do Norte com a cetamina, eu gostaria muito de participar, porém eu não tenho condições e existe a possibilidade de receber o placebo. Às vezes, parece que vivo esperando por algo que desconheço, que não estou contribuindo para encontrar uma solução real e significativa, talvez amanhã, ou depois ou daqui há anos. Existe uma enorme burocracia, investimentos necessários, pessoas qualificadas e em um lugar renomado ou sério em seus resultados. Os charlatões dominam a internet, muitos acreditam, se bobear não cursaram nem medicina e desconhecem o que é CRM, geralmente apresentam algo milagroso ou suplementos, que não são tão poderosos assim.

Quando eu fui tranferida para um lugar chamado Saúde mental, que haviam especialistas e alguns excelentes, mas para conseguir agendar levava dois meses. Os médicos geralmente nem olhavam na minha cara e perguntavam se eu estava bem, eu dizia que sim com os braços arrebentados e seca fisicamente, inclusive uma vez, ele sugeriu aumentar a minha medicação por estar baixa e eu recusei por não confiar nele e na outra consulta, eu simplesmente não consegui pegar um ônibus aqui em casa e ir até lá, porém isso não impediu ele de me receitar os medicamentos. Eu não tinha muito conhecimento, nem referências, quando eu iniciei o tratamento e não senti uma melhora significativa ou milagrosa, eu senti medo de não encontrar algo que me fizesse bem ou que eu me sentiria assim para sempre, obviamente existiam remédios e diferentes especialistas, que não conheci naquela época e me contentei com os meios oferecidos. Eu não desejo um atendimento péssimo para ninguém, nem os incrédulos e esnobes, apenas digo para buscar outro profissional, instituição ou denuncie o descaso, elas são doenças sérias e todos os médicos fazem um juramento. A terapia é muito curta e passa rápido, não posso falar muito e acabo sendo motivada a realizar autoquestionamentos e buscar respostas para eles, como os meus julgamentos que faço comigo mesmo, se são justos, ou fazem algum sentido e se eu faria com outra pessoa. Nunca pensei nisso e nem vi por esse lado, gosto desse lado da terapia de ver a autosabotagem, a gente coloca os outros acima e tentamos proteger os sentimentos alheios, então nos deixamos de lado e não é justo. Muitas vezes perdi de ficar com pessoas que eram incríveis, que mereciam algo melhor e que eu me sentia insuficiente e não merecedora, entretanto não era verdade e perdi muitas oportunidades, que somente a terapia me fez perceber e notar isso com o tempo.

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Criado por Erika Galvão, 2024.

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