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A minha depressão vai e volta em níveis, provavelmente com esse diagnóstico da minha psiquiatra, que não é uma aproveitadora. De dois em dois meses é um novo ajuste ou substituição, acabo com altos e baixos, aceitei ser assim temporariamente e não para viver sempre dependendo de remédios. Uma eterna viciada, que é dependente de remédios para sobreviver mais um dia fora da cama, nunca vou ter uma vida saudável e feliz, pois sempre serei uma depressiva e por mais que eu pesquise, encontro poucos tratamentos sendo testados. Considerei até terapia de choque ou uma lobotomia exploratória. Simplesmente viver com uma nuvem obscura a vida inteira pode ser deprimente, enquanto vejo os outros recomeçando sem a depressão como se elas fossem curadas, não invejo a vida delas de um jeito egoísta, eu só queria ser assim e pensei que a tolerância a dor facilitaria tudo. Fui me afundando até não dar mais, como se eu estivesse aguentando até chegar em um ponto que simplesmente preciso lutar contra a correnteza e não consigo, começo a ser puxada e não importa se é raso ou fundo, porque a direção é apenas uma.
As pessoas costumam associar depressão com algum tipo de sentimento, portanto envolve até neurônios e um desequilíbrio de positividade e negatividade. A minha negatividade me coloca nos piores cenários possíveis frequentemente e fico presa em pesadelos, os neurotransmissores causadores são a serotonina e Noradrenalina. Embora eu escute para deixar de ser assim ou controlar esses pensamentos, não é como uma mania ou escolha viver em um mundo cheio de maldades, que os riscos são reais e que nem tudo são flores. Odeio a ilusão, pois gera frustração geralmente e todos insistem para eu me apoiar nas coisas boas, mas não são elas que podem me destruir e preciso estar alerta para lidar da melhor forma. As pessoas não compreendem que é uma doença, embora eu tente reagir, nem sempre consigo ser forte, parece que o oxigênio desaparece e começo a sufocar por um momento só sinto o meu coração batendo aceleradamente, como se só ele estivesse trabalhando dia após dia.
Quando eu era criança tinha uma tia da minha mãe, que era engraçada, sempre nos dava doce, então eu e o meu irmão amávamos eles mais ainda e ela tomava muitos remédios, que ficavam em um cesto cheio deles para tudo que houvesse. Ela virou a referência da família para quem toma muitos remédios, pensava em como alguém vive só por conta de vários medicamentos e que aquilo não era vida. Entretanto era uma boa vida, pois ela nunca estava deprimida e nem mesmo demonstrava estar doente, porque não ficava igual a uma leprosa se clamando, meu tio era completamente dependente dela e ele vive perdido sem ela até hoje. Infelizmente, ela faleceu quando eu era criança e nunca vou esquecer quando eu fui visitar os parentes da minha mãe, que moravam no interior e foi uma aventura atravessar naquela estrada que atolava o ônibus e os vizinhos tinham tratores para ajudar o ônibus. Eu era pequena, todavia lembro do trator puxando o ônibus e depois quando fui visitar os meus tios e primos, a tia engraçada nos levou na madrinha da minha mãe e a empregada nos colocou na terreira (eu nem sabia o que era). A tia me ofereceu uma bala e quando ela foi procurar em uma pequena bolsa havia de tudo ali dentro, incluindo uma calcinha e mais remédios. Parecia um coelho na cartola e ri até passar mal quase.
Então eu sou a tia Maria agora, sem o cesto, mas com os remédios e é completamente assustador não saber o amanhã, pode ser diferente e ao mesmo tempo com uma nova crise crônica ou uma dor aguda passageira. O diferente interfere na minha vida em coisas simples que pode causar algo extremamente deprimente de se manter e sobreviver sem soltar um imenso grito de desespero sincero e espontâneo. Não sei o que é pior, porém o mais constrangedor é a síndrome do pânico, que todos acabam assistindo ao fiasco sem ao menos compreender, é assustador para quem não conhece. Me sinto pior por não conseguir controlar os meus instintos e reações, parece ser um infarto na hora para os outros e todos os sentidos são ativados como se estivesse sendo atacada. Sempre perguntam o motivo de eu ser assim e o motivo é desconhecido até por eu mesma, simplesmente não compreendo o motivo da nossa mente ser responsável por um controle tão grande por todo o nosso corpo, como se cada circulação fosse as cordas de um fantoche, entretanto a quantidade de cordas acaba se perdendo e apenas preciso lidar com isso. O lado bom é que não é tão evidente para os desconhecidos, quando estou deprimida ou uma ansiedade baixa ou mediana. As pessoas costumam tirar as suas próprias conclusões sobre o desconhecido e diferente.
Sugestão de leitura e fonte: O aspecto químico da depressão. https://www.medley.com.br/podecontar/preciso-ajuda/depressao-aspecto-quimico
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