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A tia e a irmã da minha vó eram uma inspiração, pois elas não viviam presas em um relacionamento desgastante e completamente infeliz, só para agradar a todos que os cercam, principalmente a família, elas eram reais e não se importavam com os outros. Elas estavam no hospital com a sentença de morte decretada, mas ainda assim não largavam o copo com a bebida alcoólica e nem o cigarro (maconha ou tabaco). As pessoas exigem um perfil na terceira idade, que idosos sejam incapaz e moralmente conservadores, segundo o papel imposto para elas e foi o mais próximo que eu cheguei de uma figura feminista, que conheci pessoalmente. Quando elas chegavam aqui, eu já tinha acordado, aguardando a chegada delas, observava elas jogando carta com a minha avó, enquanto os meus pais detestavam me ver no meio da fumaça do cigarro e o cheiro forte das bebidas, ainda tinha os palavrões e as gargalhadas que elas costumavam dar de forma espontânea.
Os meus pais diziam que elas eram um péssimo exemplo, acreditavam que elas me influenciariam ao mau caminho e eu só queria ser como elas, não que eu desejasse seguir o mesmo caminho que elas com as mesmas escolhas, porque não era esse o objetivo e eu só queria sentir a liberdade que elas transmitiam, sem esperar nada em troca. Sem ser uma dona de casa, casada ou ter filhos que são coisas impostas como padrão e que escuto desde pequena das demais pessoas, assim como todas as outras meninas, eu só queria ser livre de padrões idiotas. Como se eu precisasse de maus exemplos para não desejar ser comum, já que eu sempre fui da pavirada, rebelde e elas me davam uma esperança pelo fato de não serem parte do padrão, eu não quero fazer algo que eu não deseje e viver infeliz pelo resto da vida.
Poucas pessoas têm culhão para terem capacidade de serem reais, quando as tias estavam no hospital aguardando a hora de serem ceifadas sem nenhum arrependimento, elas sabiam das consequências desde o começo e ainda assim fizeram o que desejavam a todo custo. As pessoas se preocupam mais com as opiniões, de transparecer uma imagem falsa e fazem uma atuação com o tema felicidade, eu prefiro ser a garota estouradinha e sem paciência por dizer o que eu penso e isso é o que importa para eu seguir em frente. Cresci em um típico lar com um pai, uma mãe, um irmão, um gato e um cachorro, entretanto não quero isso para a minha vida e sou imensamente grata por ter eles na minha vida, porém quero mais. Quero ir além, viver cada segundo e se caso eu considerar o suicídio novamente, quero ter vivido momentos tão bons que quando eu estiver chorando e as memórias forem relembradas, eu simplesmente sorria.
Obrigada, tias! Graças a vocês sigo lutando para ser livre e mostrar a minha capacidade para o mundo, assim como vocês, sigo mostrando que sobrevivo sem o clichê.
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