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Odeio rotular a bipolaridade, porque são extremos e as pessoas não conseguem compreender a euforia, o pânico, a impulsividade, o suicídio, a automutilação, etc; visto que ser assim não foi uma opção. Odeio tudo que essa doença representava no meu passado foi apenas uma desculpa para um criminoso, que serviu para a impunidade de um monstro e quando mencionaram isso no meu diagnóstico surtei, pois me senti suja, como se também estivesse me escondendo atrás de uma doença para cometer erros e não consigo conviver com isso. Não quero ter algo incomum com um ser tão desprezível, que destruiu toda a minha mente, que desconhece sanidade mental e muitas vezes até a vontade de viver se vai. O mundo parece tão horrível desde então e difícil de lidar, ao ponto de depender de entorpecentes.
Na realidade, sei que o Carbolitium* é para tratar a bipolaridade, que ainda necessita ser tratada com remédios, que me acalmaram dizendo que era para tratar a minha depressão profunda e ainda repito isso mentalmente para não distorcer os fatos, pois eu sou bipolar e não abuso de nenhuma criança (nem saio esfaqueando as pessoas por ser bipolar). Ainda assim arrumo confusões que não envolvem outras pessoas, acabo me arriscando por sentir uma empolgação que me toma conta em certos momentos repentinos, não consigo controlar, passo por um tormento com hipóteses de “e se?”, que nunca saberei responder certas teorias e os pesadelos são sem solução mesmo com dosagens altas. A minha cama fica ensopada como se tivesse uma cachoeira, pelo terror que me causa insônia, me sinto exausta mesmo com o sono em dia e tento descansar, como vou dormir com alguém assim? Preciso estabelecer um controle para tudo isso e não sei como fazer isso.
Sinceramente não tenho certeza de mais nada, posso morrer por conta da depressão profunda ou por atitudes eufóricas que não são racionais ou nem mesmo são planejadas. Muitas pessoas criticam o fato de ser apenas atuação e que a doença será usada como uma desculpa, porém sinto muito medo, presa e com um lado obscuro assustador, que é como se fosse um retardo da minha mente, em que uma parte apenas funciona, a falta de clareza me prejudica e me causa outros distúrbios de “brinde”. Escutei tantas vezes que sou louca, que me sinto uma, vivo me questionando se existe alguma sanidade nas minhas decisões e isso não é fácil ser a juíza, a advogada, a réu, testemunhas e o júri para chegar em uma decisão correta e justa. A vida toda quis motivos para viver ou morrer, já ganhei ambas motivações e não posso garantir nada, mas vou seguir lutando enquanto houver força.
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