top of page

Cada família é uma raridade


Está chegando a minha época favorita que todos se amam três vezes ao ano: Natal, ano novo e textão de aniversário. Ainda assim tem brigas dos casais apenas e percebo que não quero ficar em uma relação com uma pessoa com ambições diferentes ou para brigar pela cor do assado, nas discussões da minha vó e o Jaka todos podem ver e ouvir (até os vizinhos), porque é como se fosse um episódio da “A Grande família”. O meu pai não gosta de discutir na frente minha e do meu irmão, mas geralmente eu até sei o motivo da discussão e o meu pai sempre culpa a minha mãe por supostamente nos colocar contra ele, sendo que sou capaz de compreender a situação. Não é essa questão, porque quando adoecemos passamos a contar com uma única pessoa, a minha mãe e certos pensamentos machistas me incomodam muito pessoalmente, não entro nessas discussões para estressar ele, como muitos costumam dizer, apenas quero que ele mude o pensamento e consiga ter visão do que ele está falando. Sendo que geralmente é ele que nos afasta dele, com discursos sobre tudo que é pecado, o que devo fazer e frases sobre Deus ou algo do tipo, ele sempre me critica e raramente é capaz de reconhecer algo mesmo ele se esforçando para demonstrar interesse pelo que somos, no entanto confesso que assustador, confuso e interpreto como deboche (mesmo ele não sabendo usar deboche, pois o meu pai jamais estaria falando sério sobre coisas bobas. Culpar a minha mãe é mais fácil do que ele mudar, ele não é como a minha avó, que criticamos pelo jeito intrigante, entretanto quando ela discute, ela coloca tudo para fora e os meus pais preferem a boa aparência para todos, então acabam reprimindo sentimentos e repentinamente eles voltam com mais força ainda, como uma pedra arremessada com força. Não sei fingir demência com alguém que me irritou, porque eu preciso explodir, daí machuco os outros e se guardo lá no fundo é como tomar um frasco de veneno. As pessoas são completamente imprevisível, quando penso que conheci alguém por conta da convivência, ela dá uma cartada que faz toda jogada perder o sentido. As amizades foram uma grande ilusão, em um dia a pessoa diz que me ama e no fingi que não existo, não fui “usada”, visto que eu já sabia o final, eu apenas tentei e não fui surpreendida pela ação e reação. Parece que só eu sei juntar as peças dos outros. Me sinto uma psicopata quando estou fingindo e exprimindo tudo, para jogar na cara em outro contexto (exceto o meu pai que me ensinou), mas o natal tem o lado bom de sentir que tenho uma família, que lá no fundo se ama de certa forma. Não é frustrante aguentar esse dia, pois é um dia festivo e de união, meu pai passou fome em vários natais na infância, enquanto o pai dele gastava tudo nas bebidas alcoólicas e o meu pai é grato pela família que eles construíram com costumes, os mesmos rostos de sempre e a mesa farta. Até a minha vó dar o primeiro berro, o meu pai me questionando sobre o meu futuro (ele que mais opina) e opinando em tudo, algo acaba virando uma guerra fria, enquanto eu sou a ONU tentando apaziguar a situação, as comidas são o meu motivo de sobreviver a cada Natal, Réveillon e ano após ano. Sempre tem a mesma discussão, que é o energético e o espumante, que o meu pai afirma, que eu e a minha vó não podemos tomar, por conta dos remédios e o mais irônico é que ele também toma um dos nossos para dormir, só que com ele é diferente, por que? Eu não sei, só sei que é sempre o mesmo inferno quando chega nessa parte, eu passo o ano todo tomando remédios para ficar bem e no final do ano não posso tomar um espumante, independente do teor alcoólico muito baixo e nem posso tomar estimulante, sendo que tomo antidepressivos para ficar bem. Não é justo, nada é e só me resta aceitar, não planejo largar os remédios e com certeza planejo continuar tentando ser o mais normal possível e tomar o que eu desejar.

Comments


Criado por Erika Galvão, 2024.

Siga:
  • Tumblr
  • Instagram
  • Facebook
  • Twitter
bottom of page