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Num dia você odeia morar em um lugar pequeno e no outro pensa em como sobreviveria em outro lugar cercado por egoístas, aprendi que nem tudo é por fofoca, visto que havia um tom de preocupação sempre que falavam. Embora exista muita fofoca como se fosse uma popstar para se meterem na minha vida (mas nunca recebi nenhum centavo por essa “fama”), então passei a ver essas pessoas com outros olhos, principalmente uma senhora que julguei muito errado por um tempo, só que ela não é como pensei e ela sempre é prestativa com todos. Quando eu não estava bem, ela vivia perguntando sobre como eu estava para a minha mãe, além dela tentar ajudar sempre que possível, eu não lembro dela quando eu era criança e a minha mãe que me contou que ela passou por maus bocados, mas ela foi a cuidadora de várias crianças que hoje são boas pessoas.
A minha mãe estava com vontade de comer canjica, foi ao mercado que fica na frente da nossa casa e não tinha. Em seguida, essa mesma senhora chegou com meio pacote para a minha mãe matar a vontade de comer e a outra metade ela se inspirou-a a fazer para ela mesma, essa é a magia de viver em um lugar pequeno e que em muitas outras vizinhanças ninguém faria isso, porque são indiferentes com o próximo. Não sabia até então que existia “fofoca do bem”, que é do tipo uma mão lava a outra e mesmo morando aqui desde que nasci levei tempo para perceber como é realmente viver aqui, principalmente a forma singular de viver no interior e a bondade que é passada de geração por geração, que é preservada pelos mais velhos principalmente.
Quando adoeci a vizinhança demonstrava mais preocupação do que muitos familiares e amigos, que se afastaram e não perguntavam nem se eu estava viva. A mesma senhora da canjica sempre perguntava e trouxe o contato da fisioterapeuta aqui da minha vila, quando eu simplesmente parei de andar, ela foi uma das pessoas que torceu para eu melhorar e mesmo sem ir foi uma boa atitude de boa fé. Lamento por quem não terá esse privilégio de conhecer pessoas com um bom coração, que nos provam que ainda existe empatia no mundo e entendi que morar no interior une pessoas de várias classes sociais, que fazem o possível unidos e quando crescemos cercados de boas ações aprendemos a praticar elas desde cedo. Quando acontece algo de ruim ficamos em choque, pois não é um hábito e nem saberia em como transformar isso, quando surgi algum aproveitador é algo que te consome lentamente até você ser consumido por completo.
Foi uma ação simples de trazer parte da canjica, porém não é algo comum alguém chegar na sua porta e dizer: “-Trouxe canjica para você matar a sua vontade e a outra metade coloquei na panela, porque me bateu uma vontade de comer também.” Não é a primeira vez e nem a última, inúmeras vezes quando não havia algo que a minha mãe precisasse no mercado, elas buscavam em outro ou elas buscavam em casa, enquanto os que mais tem não ajudam em nada. O lugar perfeito para criar filhos ou conviver com certas limitações de tecnologia ou para fazer coisas simples, todavia nesse lugar posso respirar fundo e sentir o ar quase puro inflamando os meus pulmões. Existe o péssimo vizinho e os que estamos envolvidos em uma causa incomum, que no meu caso sempre são os animais e todos sabem disso.
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