Quando paro para relembrar o passado, as histórias e momentos que vivi na antiga casa da minha vó. Houveram muitas boas histórias para contar, principalmente o quanto de gente que ela colocava em uma cozinha-sala que não era muito grande, mas conseguimos colocar uns 6 colchões espalhados, além da distribuição ser um pouco desproporcional em cada cama, ainda havia disputas e até 4 em uma cama. Ali ficávamos todos nós, a mesa enorme não era suficiente para acolher todos envolta para as refeições e nem as canecas, então era de quem chegasse primeiro, a TV era disputada entre a Globo e o SBT. Cedo da manhã estávamos quase todos acordados e planejando o dia, quase sempre havia praia no meio, geralmente logo cedo o meu pai começava a provocar a minha vó, que ficava muito revoltada e descontava em todos nós. A minha vó nunca recusou ninguém lá, principalmente na virada, ela era acolhedora e era uma comédia, naquele tempo o meu toc e a higiene não eram algo muito exigindo da minha parte. Inclusive amava as comidas feitas pela minha vó, detestava massa em uma certa época, todavia não a dela e ela sempre tentava me agradar, os mimos me colocavam em maus costumes e quando eu e o padrasto da minha mãe se juntava, daí era exploração na certa com a gente.
Quando nós ficávamos cansados das brigas da minha vó e do marido dela, a gente sempre dava a mesma volta pelas poucas opções na cidade, na pracinha, na igreja, no cais, no trapiche, no 'centro' e onde saia as lanchas. A casa da vovó era conhecida até por meros conhecidos nossos e nada íntimos, porém chegava em um ponto que a cabeça não aguentava mais tantas discussões, que acabaram se expandindo entre os casais e eu dava graças por ser solteira. O único que nunca levou ninguém, foi o meu irmão caçula, eu mesmo levei duas amigas da época, a gente costumava levar o DVD para alugar filmes ou assistir alguns nossos de comédia, quando assistir a minha própria família nos enjoava. Os eventos religiosos dos meus pais, nos levava para lá e se bobear com conhecidos juntos, independente de quem fosse, a minha vó não reclamava, simplesmente explorava quem ela não gostava ou qualquer um disposto a fazer as coisas. Ainda bem que ela tinha três sofás para nós dividirmos durante o dia ou montavam as camas para cestiar um pouco. Enquanto isso, eu e o meu irmão quase causamos vários infartos jogando bola no pequeno espaço repleto de flores que a minha vó ama, a bola voava para os vizinhos ou ela nos punia tirando a bola.
Não importava, a gente se divertia, ainda me mandavam no mercado e ficavam bravos por eu trazer o negócio errado, geralmente a encomenda era maionese para a salada de batata, que eu amo. Quando fecho os olhos, eu consigo lembrar dos detalhes, inclusive das duas taças pequenas que eram quase exclusivas para eu e o meu irmão. Os parentes da minha vó não costumam ser engraçados, com exceção de um, o garoto da nossa idade era metido a esperto e nós não éramos assim. O lado bom dos parentes dela, é que ela servia vários doces e alguns que nós não podíamos comer, nem mesmo quando os meus pais iam só com a gente e obviamente era muito irritante para a minha mãe. A minha vó não era rica, não tinha nem um DVD e quase sempre tinha uma bola sempre escondida, a gente tinha canais livres, brinquedos nossos e podíamos ouvir músicas livremente. Quando fomos jogar futebol com os vizinhos, a minha vó não gostou por não conhecer eles muito bem e o padrasto da minha mãe queria nos proibir de brincar por conta da cor deles, embora a minha vó não estivesse gostando da gente na rua, ela defendeu os vizinhos (mesmo sem conhecer) e descobri que ela não era racista felizmente. Sou grata por ter vivido tantos bons momentos e marcantes, principalmente por ter crescido com uma vó e ter uma vó na minha vida.
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