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Crenças dolorosas

As crenças envolvendo suicídio são injustas, o vale do suicídio é uma menção de alguém que desconhece a dor do suicídio, a sua motivação e a dor dos que ficam. Imagine, se um leitor, que acredita nessa lenda, tivesse que passar por essa dor ou simplesmente tivesse que enterrar alguém que ele ama. A dor que sentimos é tão agonizante, que nos leva a querer dar um fim em tudo, ganhamos a vida, que é exclusivamente nossa e não deve ser avaliada por terceiros. Se escondem atrás de religiões para julgar e culpar constantemente, sinceramente o que mais me impressiona é o espiritismo transformar uma doença em uma tortura para os vivos. Imagina uma tentativa de suicídio fracassada, precisa ainda lidar com julgamentos e estigmas ultrapassados, insensíveis e ignorantes; é como querer ensinar um pássaro a voar sem ter asas, agora, imagina as asas como a dor. A dor é grande, mas aumenta com os livros religiosos, o luto é desrespeitado e isso só agrava as coisas. A dor sempre pode aumentar, o desprezo pode ser equiparado, ao nada perto dos dedos apontados com palavras ríspidas. A dor de pessoas que colocam suas crenças acima dos sentimentos alheios, tipo o meu pai, eu não consigo imaginar o quanto ele sofreu do jeito dele e pela fé dele. Ele nunca me perguntou como eu me sentia, apenas não acredita em redenção e que estaria entre os perdidos, pois cometi um pecado grave, independente das circunstâncias e mesmo com uma medicina com constantes avanços.

Antigamente, a fé tinha um peso maior, principalmente por tratarem como justificativa e a busca por salvação em um mundo maior. A questão espiritual era mais buscada do que a ciência, o pouco e a pouca relação em crenças de milhares de anos repassadas de geração em geração era um problema para introduzir a ciência. Houve um tempo que tudo que ia contra a igreja era bruxaria, custando a vida de muitos e a alquimia era desconsiderada para muitos. Mesmo a ciência tenha avançado, ela simplesmente é deixada de lado em certas coisas, principalmente por pessoas devotas e mais das antigas. O pior é que profetas acabam usando um discurso e falando de forma cruel sobre certas feridas expostas, pouco me importa a inspiração de pessoas aumentando a dor daqueles que a sentem. Quando eu tentei contra a minha própria vida, eu não considerei esse lado das crenças dos meus pais, principalmente o meu pai que era mais fanático, eu tinha noção da forma que ele me via em relação ao meu sofrimento. A covardia era a principal definição para estas pessoas e comigo não foi diferente, como a bíblia não se aprofunda nesse tema e por serem em uma época completamente diferente da nossa, que a ignorância era quase universal e pouco se questionavam sobre as razões alheias, nem tinham empatia e tratavam e tratam como se fosse motivo de vergonha até hoje essas tentativas. Ninguém escolhe morrer pensando nesses paradigmas, a nossa fé deveria ser baseada principalmente na compaixão e não na crucificação. O motivo das nossas ações são desconhecidos, porém não significa que devem apontar o dedo para se sentirem superiores e devotos.

Imagine uma família católica de berço, um familiar na Idade Média acaba decidindo se suicidar, seu familiares temem pela sua alma e nem o padre reza uma missa por ser um pecado imperdoável, porém imperdoável para quem? Um pecador confessado não deveria ser mais digno de respeito, do que a dor daqueles que sofrem e buscam luz para a alma daqueles que amam. Se uma pessoa decide tirar a própria vida é por ela já estar vivendo no inferno, a dor e a solidão do que sente, é algo extremamente injusta de se carregar em um tempo que Freud ainda não havia nascido e nem havia especialistas no assunto, se confessar para um padre era algo completamente diferente, por se basear em livros ultrapassados e sinceramente os nossos antepassados não mereciam sofrer tanto por algo até então desconhecido. Dizer que uma pessoa está possuída, sendo que milhares de anos, após a medicina explicar os transtornos mentais, depois de tantas torturas e vidas que poderiam ser poupadas por apresentar um comportamento doentio inofensivo ou de alguém apresentar ter capacidade de pensar fora da caixa. O vale dos suicidas é só mais um tormento, que poderia poupar muitas famílias de agirem no desespero atrás de charlatões que se aproveitam para benefício próprio, transformaram a dor e o desespero em um negócio lucrativo, por conta disso sou a favor da igreja pagar impostos. Acredito que adquirimos um propósito, mas ao longo da vida realizamos muitos outros, que se tornam parte da nossa história, não sabemos o que é ou devemos, se fosse assim nenhum bebê teria ou realizaria o seu propósito, e iria vagar por décadas. Não existe uma resposta concreta para todas as nossas dúvidas, apenas interpretações individuais ou de grupos religiosos. O mesmo grupo que aprecia Salmos, acredita que os 10 mandamentos foi abolido, além de considerarem os versículos de Levítico sobre LGBTQQ+ como válidos. Além de não guardarem o sábado, também se alimentam de carnes "imundas" e vivem em meio as contradições de um único testamento. Cresci em uma religião que seguia o roteiro, mas era como se fossem robôs cercados de hipocrisia e sem amor.

O diálogo era impossível entre eu e o meu pai, então resolvi mostrar relatos de pastores e a depressão, ainda assim ele insistiu em questionar a fé do próprio pastor. As pessoas acreditam no que querem e isso é injusto. A minha vó sempre me disse que não devemos falar mal dos mortos, que é muito feio, porque eles não podem se defenderem. Ela tem razão, mas a gente sempre tem algum comentário e ainda assim consigo ver verdade no que ela diz. Quando menciono o passado não é para simplesmente demonizar as igrejas, entretanto vejo muitas injustiças até hoje, que poucos conseguem ver, principalmente fiéis, exceto os visionários, que atualmente vemos com clareza e conseguimos separar a religião e a medicina; que a religião pode andar junto com a medicina. Dou graças por viver em outro tempo, embora alguns persistam em crenças do passado, sinto que vivemos em um progresso constante, sem lobotomia, tratamento de choque ou outras torturas. Quando eu tentei contra a minha vida, eu obtive 3 reações, a minha mãe preocupada em me perder, o meu pai pensando nas crenças dele e o meu irmão distante, porém preocupado. O meu pai é a pessoa que mais me magoa quando se refere ao meu tratamento, não sinto medo do inferno de verdade, pois já sofri tanto aqui, o pior é ficar sem os meus remédios, o paraíso foi cada momento que tive com as pessoas que amo e os animais. Viver deslocada é tolerável, o pior é a dor que sentimos no peito, que podemos levar para outras vidas, pois tenho depressão desde pequena e eu era uma simples criança. Alguns simplesmente ignoram os sinais de um doente com transtornos psiquiátricos, porém fazem um fiasco quando a pessoa morre, o peso da consciência pode ser poupado, assim como certas vidas podem ser salvas. Um simples gesto é melhor do que rezar por meses por uma alma sofrida, não existe conforto para quem perde alguém, mas existe solução para poupar a dor alheia, dizem que existe um Deus justo, que não é tudo preto no branco, além de um advogado que é amor e isso faz mais sentido do que resumir uma vida em um único gesto. Sinceramente não sei sobre a nossa alma quando morremos, mas acredito que existem dois pesos e duas medidas, que finalmente a pessoa descansou da dor e finalmente alcançou paz.

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Criado por Erika Galvão, 2024.

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