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Não tenho medo da morte, na verdade tenho medo de agonizar até ela chegar. Vejo um senhorzinho, que marcou a minha vida e foi o mais próximo de um vô, ele com um tumor no cérebro, vítima de AVC, usando uma sonda na barriga, vive amarrado, não pode comer, não sabe quem é e muitas vezes tenta sair, mesmo sem poder ir longe. Isso não é viver, é existir, definhar e alguns lutam e outros querem descansar de tudo isso, se eu pudesse optar. Eu assinaria papéis ordenando uma eutanásia em condições irreversíveis e se eu sentir alguma dor ou condições psicológicas que me tornam dependente de cuidados alheios. Sem precisar deixar uma decisão tão grande para os meus ente queridos, porque não seria justo e seria um peso gigantesco. A esperança por talvez encontrarem uma cura, além de sofrerem duas vezes o luto, na perda do meu normal e na perda física, embora o espiritismo conforte ou seja real toda filosofia da crença. Sou suspeita em falar sobre a minha morte, já desejei e tentei falhamente, o mundo é um lugar tão intenso e exigente, que acaba nos sufocando e muitas vezes nem notamos antes de chegar em um ponto de total esgotamento.
As pessoas te cobrando tanto uma formação, um emprego, um relacionamento, filhos, ciclo social e uma cura surreal de coisas que estão fora de controle. O meu primeiro Enem, foi com 17 anos, todos opinando sobre as minhas escolhas, fazendo exigências e alguns sem compreender, mas opinando cruelmente e desnecessariamente. A minha mãe que costuma dizer: "Como se eles estivessem te bancando." Não estão, mas te causam um enorme desgaste, o último Enem, foi recente com os meus 24 anos, a sensação é a mesma todos os anos. Nunca usei o Enem para entrar na federal, eu sempre busquei o vestibular do IFSul e com ele fiz o técnico e agora, a minha graduação. Todo Enem é um peso, nervosismo, a base de Rivotril, segurando o choro e vivenciando na minha mente tudo o que de pior já aconteceu. Respira, inspira, respira! Essa é a minha mãe e algumas pessoas que me conhecem. Quando entrei em biblioteconomia na federal (Furg), eu fiquei tão realizada e depois em química no IFSul, duas federais me selecionaram e eu não sabia qual curso escolher. Recentemente, eu fui aprovada em Engenharia Química, todavia todos os críticos ainda opinam na minha vida e fazem exigências. Deve ser essa a sensação que o Husky aqui de casa sente quando colocamos o enforcador, para cansar e controlar ele. Nunca gostei do enforcador, pois vejo essa semelhança entre o real e o metafórico. Quando tu cansa e ignora, causa um imenso desgaste, principalmente mental, que não pode ser remendado ou substituído quando chegamos no limite.
A morte perfeita é aquela que nos leva sem dor e sem volta, porque não quero acordar no caixão em algum momento e ter que morrer novamente sem oxigênio. Às vezes, eu preciso inflar os meus pulmões e outras vezes nem assim consigo sentir o ar entrando, é como se eu estivesse respirando nada ou água, daí tu te sentes afogado. Pior do que morrer é como sobreviver e a forma que a vida é retirada aos poucos, arrancando sua essência, sentir o seu corpo atrofiar, perder os movimentos, desconectando o corpo da mente, ou até formatando a sua mente. Talvez eu tenha sido tão cobrada e isso me tornou exigente comigo mesmo. Provavelmente isso que quase me fez perder a vida, além da dor que sinto e nunca deixei de sentir. A medicação anestesia um pouco, porém bate uma vontade de desistir de tudo e deixar de aguentar tanta coisa. A autorrealização é difícil de alcançar, mas realizar os caprichos dos outros, é quase uma tarefa impossível e eles nunca cansam de querer mais. Não é justo projetar os sonhos frustrados ou tentar vivenciar tudo com o seu bonequinho de vodu humano. O meu melhor só eu posso descobrir ou desejar, enquanto isso, ninguém tem o direito de se meter nas minhas escolhas. Não posso jogar a culpa da minha tentativa de suicídio, entretanto houveram diversos gatilhos que não me ajudaram muito e nem me motivaram a seguir em frente de cabeça erguida. Muitos jogaram inúmeras pás de areia, depois criticaram as minhas crises e surtos, os contribuintes se foram quando tudo desandou e é fácil criticar. O difícil é fazer e ser melhor. Na minha família é raro um graduado, eu vou ser a primeira entre os mais próximos de sangue e convivência, a cursar, uma carreira profissional estabilizada e na busca de um futuro melhor.
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