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“- Antes que o meu filho estivesse na maconha do que estar no estado que está.” Essa foi a frase que a prima da minha mãe usou para expressar o quanto ela está sofrendo e o medo que senti de perder o único filho. Desde cedo, ele já não era uma criança como as outras e o médico diagnosticou ele com transtornos, que necessitam de tratamentos, desde quando o vizinho do lado se suicidou ativou vários gatilhos na mente do meu primo de muitos graus de distância e isso marcou a vida dele, ao ponto dele tentar tirar a própria vida. Nunca fomos próximos, eu não sabia da situação dele, até o irmão da minha avó morrer e a minha avó encontrar a sobrinha dela, que para a surpresa dela ficou sabendo por coincidência que precisou de um velório para descobrir do sobrinho e ouvir da sobrinha que eles estão pagando pelos seus pecados. Isso é duro, cruel e completamente insano para os pais que não querem perder o filho e passam a se sentirem culpados pela tentativa de suicídio. Não sei o que os meus pais pensaram, porém sei que não foi fácil para eles, meu pai mudou completamente comigo e foi quando me notaram de várias formas.
Nenhum pai compreende a situação do próprio filho, então eles ignoram ou vivem em negação, no caso do meu pai ele era cético e a mente fechada. Muitas vezes eles buscam uma explicação de que acontece certas coisas ruins por estar distante de Deus e sempre que meu pai diz isso, eu me sinto o anticristo e descontrolada. Muitos pais acabam negando a doença e existem aqueles que se recusam a buscar tratamento, desde que iniciei o tratamento, eu jamais larguei a medicação por bobagens, ainda assim tenho recaídas e o meu primo nasceu com transtornos que tornaram ele dependente de remédios para ter mais qualidade de vida. Muitos consideram a medicação como uma fraqueza e tratam como piada, mas dar o primeiro passo de aceitar, buscar e se permitir melhorar torna todos seres em evoluídos, que buscam respostas além da fé e isso é significativo, pois as únicas coisas que caíram do céu (até então) foi chuva e neve.
Quando nascemos somos rotulados como héteros pela sociedade, quando crescemos e passamos a conhecer o nosso corpo e desejos, então começa o dilema da aceitação dupla, que é consigo mesmo e o restante. Nos preparamos para doenças até ali, embora muitos pais sejam ignorantes sobre certos assuntos e muitos dizem que preferem um filho criminoso do que gay, isso dói principalmente ouvir de conhecidos, seres incríveis que são mal compreendidos e muitos familiares acabam desejando uma questão de múltipla escolha, que envolve: filho dependente de drogas, filha depressiva/suicida e filho homossexual; acabam desejando um filho criminoso ou viciado na última do que ter um filho LGBTQ+. Essa opção é por pura ignorância, optar e desejar algo desumano com final mortal, o hétero é sortudo por nascer como todos desejam e não precisa “sair do armário”. No meu caso, eu sou depressiva, bissexual e dependente de medicamentos controlados; então sou um pesadelo para os meus pais e familiares, portanto é quem eu sou e isso basta, sem opiniões e conselhos sobre como devo fazer ou não fazer, segundo terceiros que pensam ser os donos do universo e se colocam como soberanos.
Sentir a tristeza alheia nos torna mais humanos com tudo que nos cerca, aprendemos a nos colocar no lugar e muitas vezes simplesmente compreendemos a tocar na ferida dos outros. Já usei isso para ser bom e ruim com alguém desprezível, mas jamais abandonaria um amigo por ele ser quem ele é e sem causar dor ao próximo, visto que o desprezo familiar é por ignorância e egoísmo cultivados por serem mesquinhos. Subestimar um suicida é como dar um nó na corda do pescoço, essa desinformação de questionar a capacidade de alguém tirar a própria vida e o silêncio nunca salvou ninguém, eu tenho idealização suicida desde criança e lido com ela diariamente. Graças aos remédios consigo observar ao meu redor e ver além, que minha família me ama, que meu papel é fundamental para a bicharada e as pessoas com feridas que precisam cicatrizarem com a ajuda de alguém.
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