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O Natal, mais um ou menos um e as tradições aqui de casa seguem. Muita comida, correria, discussões pelo mesmas causas e protagonistas, e esse ano não foi diferente, o meu pai arrumando um jeito de me deixar puta como sempre (e vice versa). Nada mudou, antigamente eu apanhava e isso não resolveu, faz parte da minha pessoa e não posso simplesmente virar alguém que não sou, porque acredito que devo defender o que eu acredito. Sempre amei essa época, nos últimos anos as coisas foram perdendo a magia ou a depressão tirou parte, recentemente tive até uma crise intensa e nada me alegra, nem o natal e nem coisas que me animavam. Antigamente a ideia do bom velhinho era completamente fascinante, mesmo sem fazer sentido algum, era tão bom acreditar em algo, visto que eu acreditava até em Deus e na sua generosidade. Embora não fizesse sentido algum um idoso gordo passando por um basculante ou um buraquinho minúsculo ainda assim eu buscava algum sentido, como a utilização de magia para atravessar e encolher. Quando descobri que era mentira, não poupei ninguém, principalmente o meu pai que dizia ser sincero e mentiu sobre isso, nunca vou me esquecer do dia que eu olhei na cara dele com tanta raiva e disse que era mentiroso, não lembro se apanhei ou fui castigada. Aquela vez foi mais uma prova desde cedo do quão sincera, emocionada, direta e um pouco (totalmente) explosiva, eu sou. Ainda mais com a minha maré de azar, tombos, e uma gastroenterite no penúltimo dia do meu estágio e poucos dias do natal, que me causou tanta dor de estômago e não consegui nem comer direito por conta disso. A graça de tudo é a comida e as pessoas que nos cercam (mesmo eu sempre falando na comida apenas), no entanto foi estranho não ter o tio Jaka, que foi morar com os filhos por conta do AVC, que também tinha a comida como motivação, a nossa família e gastava (ou melhor, esbanjava) com tanta comida. Por milagre a minha vó nem mencionou, a casa estava tão calma e limpa até.
Um natal diferente, que não foi marcante como muitos outros, mas não deixou de ser ótimo.
A briga dessa vez foi por eu rir de gente que não gosto, que quebraram a cara por opção, mesmo todo mundo dizendo que ia dar ruim e o mais engraçado era ver o meu pai defendendo os outros. Enquanto nós somos crucificados por qualquer coisa, pouco importa as intenções, motivos e o que queremos, pouco importa para ele, é exaustivo conviver com uma pessoa assim e pelo menos ele não me encheu o saco o restante do dia, até a noite pelo menos. O tempo todo é assim, a aversão é imensa comigo e a minha mãe, poderia dizer que é misoginia, mas é apenas conosco. Se pudesse nos apedrejaria, na frente dos outros somos adoráveis e admiráveis, enquanto os outros são vítimas e nós somos tratadas como meretrizes (a palavra correta é essa, porque somos tratadas como antigamente e rebaixadas), sei que é triste e mais cômica ainda a realidade que essas pessoas estão passando, entretanto não para a minha pessoa e foram essas pessoas que sugaram o máximo possível da minha sanidade e dignidade. Pouco importa isso para o meu pai, nunca conheci uma pessoa tão egocêntrica, ainda se acha no direito de dizer que alguém não é gente e cresci ouvindo isso, poderia usar a religião, mas os erros são dele e ele só se esconde atrás da igreja buscando redenção, assim como muitos outros. Sempre fui direta no que eu penso, isso sempre foi um problema para ele, nunca fui a boa moça e frustrei ele em todos os planos, que ele tinha traçado para minha vida, principalmente envolvendo igreja e até o sonho de eu ficar com um babaca de lá. Todo esse blá blá blá me motivou a querer sair correndo, até eu quebrar as pernas e perceber que tinha duas opções, estudar ou arrumar um emprego meia boca que nunca me levaria a nada. Aqui estou eu em busca de formações, gostaria de dizer que uma ou duas coisas mudaram na minha família, porém nada muda, exceto a pauta das nossas discussões e muitas vezes os envolvidos também, todavia não sei como sempre acabo nelas.
O meu pai sempre tenta estragar as datas festivas, geralmente ele estraga as datas da minha mãe. Sempre tive medo de ter um filho antes da depressão e de ser tão exigente quanto ao meu pai, que vive nos criticando e é insatisfeito, se ele acabasse lendo esse texto, ele se preocuparia com o que os outros pensariam e não com o que eu penso. Pelo menos dessa vez a briga não foi durante a ceia, antes de tudo foi completamente insano e isso tudo é exaustivo. Talvez seja por ele estar ocupado e cansado fazendo as coisas de última hora, porque é uma tradição e é difícil conviver com uma pessoa assim, principalmente sendo o seu pai. Toda família tem problemas, mas cansa sempre essas críticas constantes, Deus, narcisismo, egoísmo, ideias ultrapassadas, o dono da razão e fanatismo político e religioso. O meu plano era ir embora e vir apenas passar o natal aqui, arrumar uma mulher linda com uma mente aberta e uma relação, que me fizesse me sentir compreendida e eu também. O plano fracassou, então escuto reclamações o ano inteiro do que bebo, como, me porto, meu tratamento e o modo que eu respiro. Os presentes sempre foram uma parte excelente, algumas vezes frustrantes e nunca foram a parte vital, mas é o lado bom do capitalismo para alguns obviamente. Sinto falta do amigo secreto, mas senti falta de amigos que sempre marcam o natal e esse ano não foi assim, por conta da vida que sempre apronta algo para tentar nos desunir. A lástima e a comédia sempre foi patrocinada pela bebida alcoólica, que atualmente o único degustador é o meu irmão e sem dar PT felizmente. Quem sabia fazer uma festa farta, se foi antes mesmo de eu e o meu irmão poder recordar, o meu irmão nunca teve um natal com ele, o meu avô. Como podemos sentir falta de alguém que nem conhecemos de fato? O que me conforta é saber que não está agonizando em uma cama sem saber quem é ou sabemos.
A magia vai acabando ou as pessoas que geravam a magia foram se desgastando? O meu medo é perder essas pessoas ou me perder ao longo do trajeto. Os recomeços são assustadores realmente, portanto são necessários e não saberia por onde começar, só queria sentir alguma emoção e isso não é culpa de ninguém. Nem uma garrafa de espumante foi capaz, nem medicação e ainda tem os impulsos. O seu natal pode não ter sido bom, todavia sempre haverão outros e sabe-se lá as surpresas que virão, espero que boas e novas.
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