Desde de pequena, eu costumava ir com a minha mãe para o serviço dela, que era uma semana por mês e levava em média 6h para chegar. Entretanto, ela costumava ir no centro de Porto Alegre, aquele povo parecia formiga espalhada para todo lado e precisava ser cuidadosa com os assaltos. O motivo dela ir era para comprar coisas na casa de produtos naturais e material para artesanato em conta. Valia a pena as compras e sempre havia variedades e bons preços. Eu sentia medo quando criança, medo ser engolida por aquela multidão mal educada e frívola, além de todo aquele povo parecer uns robôs e a minha mãe praticamente me arrastava, e precisava ficar atenta com todos.
Tudo aquilo parecia um jogo de uma guria que saiu de uma cidade pacata para a capital, e a minha fobia social era minúscula, em comparação com atualmente e eu me sentia ao mesmo tempo, determinada e segura com a minha mãe, até na adolescência. Sinceramente não consigo me imaginar lá, sendo engolida pela multidão sozinha. Nem sempre fui transtornada ao ponto de querer me atirar no chão e chorar, até soluçar. Sempre tentei ser uma pessoa fria e sempre tentei camuflar a minha empatia e a dor que isso me causa, porque isso é uma fraqueza que poderiam usar contra a minha pessoa. Eu tenho uma personalidade difícil realmente, todavia, eu sinto muito e guardo muitas coisas tóxicas comigo mesmo.
Quando eu tinha por volta de 13 anos, eu estava andando no centro de POA com a minha mãe e eu vi um homem atirado no chão em um paradão e ele parecia morto, não vi o diafragma dele subindo e descendo. Aquilo me abalou, chorei e ninguém acreditou, pedi para a minha mãe ligar para o SAMU, ela não acreditou e não dava para usar o telefone sem ser assaltado, que era algo comum. Nunca vou saber, se eu parasse, eu seria pisoteada por aquela boiada e as pessoas não me levavam a sério quando comentava sobre isso, o aspecto dele era de usuário e dá para notar isso. Aquilo me causava um desespero e tentei colocar na minha cabeça, que não era real e ele estava vivo, sinceramente não sei se ele gostaria continuar com essa vida miserável, que ninguém merece passar por isso e alguns tentam fugir da realidade.
Recentemente vi na parada de ônibus aqui na vila, uma cadela e depois um cachorro sendo atropelada e eu entrei em choque, cheguei aos prantos (principalmente no dia da cadela atropelada) e não fui na aula por motivos óbvios, nunca vi isso e não sei o que fazer. Parece que o tempo me fez mais sensível, a diferença nesse meio tempo demostra o impacto das coisas, sem comparações ou pesos. Não sinto mais vergonha de chorar, me preocupo em preocupar os outros apenas, entretanto, me liberei de paradigmas próprios e que faz parte chorar e sorrir. Posso não conhecer a pessoa, julgar mal inicialmente, mas às vezes, a gente vai descobrindo a história e isso me causa um certo arrependimento. Olhar para alguém ou animal sem teto causa um aperto no peito e que a vida é injusta com todos, portanto para alguns ela é mais ainda.
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