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Exigências

Eu recebi uma criação muito rígida, embora os meus pais neguem por não lembrarem, eu lembro de muitas coisas que me feriram psicologicamente principalmente. O culto familiar que fazíamos diariamente, era acompanhado de uma vara de pitangueira afiada para punir eu e o meu irmão durante o culto, pelo mau comportamento e às vezes algum castigo. Sinceramente não discordo do meu pensamento na época de que era desnecessário todo esse tratamento, visto que éramos apenas crianças e o culto não tinha essa finalidade de punir, pois creio que o objetivo era louvar e que Deus, eu tenho certeza que ele compreenderia o comportamento levado de uma criança. Aquilo me fazia odiar mais ainda a religião, era uma ditadura dentro de casa, que o grande cabeça era Deus, mesmo sem ele dizer uma só palavra diretamente, os seus seguidores interpretavam do seu jeito o que compreendia de seus livros e fé. Aquilo marca uma criança, além de dificultar a crença de que existe um Deus de amor, enquanto nós vivíamos uma punição imediata e constante perante o nosso comportamento, eu não chamaria de erro coisas que eram feitas inocentemente sem muito medo de ofender a Deus e sem maldade. Tipo o dia que o meu irmão roubou um chiclete e disse que não pediu, porque sabia que ela daria para ele e foi com zero maldade, além de deixar a gente com a cara no chão.

O meu pai sempre foi apaixonado por música, ele sempre quis que eu cantasse igual a ele na igreja, eu realmente não ligava para isso e não ligo para como canto. Todavia ele vivia me corrigindo por desafinar, por errar as notas, qualquer coisa que ele julgasse fora do tom ou das notas musicais. Iniciei a mesma música tantas vezes, somente por conta dele não gostar, pela falta de afinação, eu realmente não sou uma cantora de primeira, até tentei ser o mais próximo que ele desejava como filha, mas cansa e fui cobrada até por pessoas da igreja para cantar melhor ou mais alto. Sabe quando você está se esforçando para fazer algo que realmente não liga? Daí o restante resolve se meter como se realmente fizessem alguma coisa útil ou soubessem cantar o dó, ré, mi? Essas pessoas eram as que ficavam sentadas no banco, como uma plateia aguardando um espetáculo e após o término criticavam de inúmeras formas, mas nunca faziam nada, seres inúteis. Algumas vezes eu chorava sozinha e dizia que estava cansada, mas o meu pai sempre exigia mais e que para Deus tudo deveria ser perfeito e dar o nosso máximo para agradar ele. Embora estivesse dando o meu melhor, parecia não importar e isso era massacrante, principalmente para uma criança que simplesmente queria louvar e não participar de uma audição de programa de quinta categoria.

Sabe quando você se esforça por semanas ou meses tentando ensaiar um hino para cantar na frente de todos para ter algo novo e acaba sendo criticado por não ser perfeito. Essa foi eu, várias vezes e o pior era que eu realmente estava me dedicando para me apresentar, por conta da timidez, medo de público e as críticas que sempre surgiam. Daquelas pessoas eu realmente esperava de tudo, já que não serviam nem para apoiar uma criança, porque eram incapazes de fazer algo e atrapalhavam os que os outros faziam, o que atrapalhavam o progresso e isso aconteceu com outras pessoas que também tentaram. Ou seja, além do meu pai, havia os membros que me atormentavam e os meus pais me defendiam dos inúteis por eu tentar, porém o meu pai dizia depois sem eles presenciarem. O pior de tudo era sempre uma pessoa que você ama e que nunca está satisfeito com o progresso da própria filha. Ele parecia não ter noção do quanto as palavras dele pesam até hoje, porém o peso delas são imensas e nem mesmo me acostumar resolveu de algo. 'Dó ré mi fá sol lá si dó" e "Deus merece o melhor", essas eram as frases que eu mais ouvia e isso era irritante, provoquei muitas vezes nessas tentativas como qualquer criança entediada e fui punida. Tenho certeza que ele não lembra, diz que é coisa da minha cabeça e despreza as minhas afirmações daquele tempo, então isso me faz mais mal ainda, pois faz parecer que eu sou louca e não sou.

Eu e o meu irmão tivemos uma criação rígida que de nada adiantou, dentro de uma igreja e com ensinamentos bíblicos em casa. Entretanto por eu ser a filha mais velha nessa atual relação dos meus pais, eu era a mais cobrada, nem mesmo a outra mais velha foi criada assim. Na verdade ela foi abandonada e toda a responsabilidade caiu sobre a nova família (ao invés do meu pai), eu me sentia na obrigação de ser uma filha boa em dobro, já que a outra não liga para a existência do pai e não estou julgando ela por isso, porque ela teve motivos para isso e não posso julgá-la sem conhecer a realidade dela. Detesto ela por ter sido uma irmã de merda comigo, eu não tive culpa e eu só queria uma irmã, porém tive de outro sangue e de coração. Sempre senti medo de ser um desorgulho, mas sou, pois curto mulheres, não sou crente, nem tenho nada de conservadora (de verdade e não os rascunhos de direita, já que o meu pai não é de direita felizmente), sempre pensei sozinha e confrontei quem pediu por isso. Foi a mesma pessoa que dizia que eu era morena cor de cuia, que a minha cor era linda por ser descendente de indígena (ele acha) e ao mesmo tempo me chamava de modelo de barrio para me diminuir juntamente com o filho dele com outra mulher antes da minha mãe. Sou eu, cresci com tantas exigências, embora o meu pai não fizesse por mal, me senti tão pressionada e sufocada, a pessoa que mais desrespeitei na vida foi eu mesmo e fui tão injusta comigo.

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Criado por Erika Galvão, 2024.

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