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O carnaval, uma época mágica com alegria, difícil distinguir trans dos héteros enrustidos, principalmente quem bate no peito e se diz macho, que se vende como Pitbull e é um Shih-tzu inofensivo. O momento certo para usar o traje, maquiagem e acessórios, um dia é suficiente para eles, se realizarem e para uma saída breve do armário, em uma época única. Dessa vez, eu queria ir e enfrentar a minha fobia social, minha mãe ficou apavorada, por eu querer ser uma pessoa normal, uma única vez ao ano, poucos assumem esse papel do eu verdadeiro para a vida, porque existem diversos motivos. Principalmente por colocarem as outras pessoas com comentários maldosos, acima da própria felicidade. Uma noite de fantasias, bebidas, samba e muita gente junta, é o dia que toda batida é bem vinda, qualquer música vira um pagode ou samba, o samba nunca irá morrer e o carnaval sempre manterá vivo.
A perdição não é aquela curtida, é a maldade do que ali estão, antigamente nos tempos bíblicos, eles dançavam e cantavam para "adorar ao senhor" e condenavam certas ações em outra época, que por ironia, os homens usavam túnicas e são parecidos com os famosos vestidos. Ninguém mais usa, o carnaval não é adoração de nada, é festividade, ali eles estão em busca de diversão, pessoas exaustas do trabalho, de ser mãe e vem de longe para assistir ou participar. A noite que ninguém quer água, no máximo na música e olhe lá, todos querem álcool em garrafas ou latas rotuladas com cerveja, vodka, tequila, shop em estabelecimentos, cachaça e entre outras bebidas, além do famoso energético. O refrigerante é no máximo uma mistura com álcool, dançando, brincando, brigando ou apenas observando, é parte do espetáculo.
Todo ano se repete, infelizmente as mulheres são o alvo de assediadores nojentos, incomível e que são rejeitados por todas, ninguém merece passar por isso, a culpa não é ela ter bebido e raramente é culpa do álcool, que ele é um abusador. O álcool pode afetar o comportamento, mas não é a causa de tudo, apenas são covardes e felizmente a sociedade reconhece a diferença de flertar e assediar alguém, que não é não! Quando eu era criança havia arrastões na avenida da praia, mas os riscos não impediam eles de curtir e ir para a rua, já que muitos vinham de longe para sentir todo esse clima de festa. A tradição de todos os carnavais, são as chuvas e temporais aqui, ainda assim é todo mundo encharcado e rindo. Meu pai sempre diz que o temporal é uma maldição por causa da vulgaridade, assim como a minha vó dizia que o trovão era a irá de Deus e meu pai dizia que era loucura (não vejo muita diferença nessas alucinações).
Entretanto, nosso corpo não é vulgar, fomos esculpidos e temos nossa individualidade, a maldade está nos olhos de quem vê e não no de quem vive intensamente. Principalmente as mulheres são sempre vítimas de comentários sobre vulgaridade, porém elas são dignas de respeito e não estão ali para chamar a atenção, cresci ouvindo que essas mulheres são vagabas. Ouvi tantas vezes adjetivos horríveis, que eu passei a ter um enorme receio do meu corpo e de como agir para receber respeito, sabe o respeito que ganhei por conta disso? Quase zero, mas alguns me respeitam por eu ser eu mesma e não um robô de falso moralismo. Em outra vida, eu espero ter sido eu, sem medos e transtornos, que me tornam uma presa fácil para ser feliz, de poder dançar, cantar, rir e sem medo. Sem sentir vontade de me enterrar e sentir o que sinto em um ataque de pânico.
A minha psicóloga disse, que eu só vou ser feliz, quando eu for embora de casa, ela tem razão, meus pais na tentativa de me proteger, me afundam mais ainda e me fazem questionar a minha capacidade. É como andar com duas bolas de ferro na minha canela, uma é o transtorno e a outra são as pessoas, que não me deixam avançar. Eu fico muito triste por isso, pôr em outros anos, eu não ter conseguido ir e por esse ano a minha mãe ter me dito várias coisas pesadas, e ter me jogado na cara coisas que me deixaram mal, por eu ser assim. Queria sentir a vibe de estar ali, de olhar a minha volta e não sentir a minha cabeça doendo pelas pessoas e música alta, queria beber algo que me fizesse dançar e cantar, sem impedimento algum de ser feliz. Meus pais sempre foram contra o carnaval, então eles nos arrastavam para um acampamento da igreja, que era um porre os cultos e programações entediantes, inclusive para as crianças. Exceto o social, que era com danças infantis e as músicas também, aquela parte eu adorava e para não chamar de dança, eles usavam a palavra, pular e geral ia de noite. Os velhos costumavam dizer que aquilo era uma blasfêmia, a turminha que fugiu do asilo, acabava indo ficar presos na barraca e tinha aqueles que desejavam aproveitar ao máximo as experiências adquiridas ali e curtiam juntos.
Eu pulava raramente ou ria assistindo, no parzinho, eu sempre sobrava e nunca interagia bem e por milagre o meu pai não nos barrava daquelas danças. O meu pai adorava nos privar do carnaval mundano e não resolveu muito, até os esportes não foram suficientes para prender o meu irmão. Inclusive o meu irmão foi o primeiro a dar uma escapada com a minha vó e o tio/vó Jaka, que ele também curtia e meu irmão adorou. Eu nunca fui ao Carnaval, em partes pelos meus pais e outras vezes eu não conseguia ir por eu ser assim, eu odeio ser assim e sempre quis ir além.
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