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Lesionado

O astro não está em gramas de esportes, ele está jogando em times de vila ou no máximo regionais, ele corre atrás de olheiros e busca reconhecimento de seu valor em campo. Cresci com um astro desse, meus pais apoiaram ou tentaram, no entanto não era a carreira que eles desejavam para o meu irmão, por conta da instabilidade e a grande incerteza que é causada dentro dos esportes, por conta de lesões, falta de patrocínio ou até mesmo ter deixado no banco. O meu irmão sempre se destacou entre os outros, desde a escola, os professores já falavam do talento dele em campo e muitas vezes sugeriam para minha mãe colocar em escolinhas de futebol, mas não tinhamos condições para pagar os gastos da escolinha e duas passagens de ida e volta, além de tempo para assistir o treino. Ao longo do tempo de pré-adolescente, ele treinava para competir em campeonatos, o meu irmão recebeu tal reconhecimento que levou ele a outros jogos e times. O nível de jogo dele era tão bom, que empresas que ele não trabalhava e não trabalha até hoje, ainda convidam ele para jogar nos times deles, já que ele também é conhecido pelos jogadores do time, funcionários (de operários ao chefe de departamentos) e pelo conhecimento da forma que ele jogava, sem precisar machucar os jogadores do outro time e nem confusão. Não é porque ele é meu irmão, ele teria total capacidade de jogar em um time grande e jogaria muito melhor do que aqueles caras que recebem salários altíssimos para ficarem simplesmente aguardando a bola, sem o plano de jogo ou objetivo. O meu irmão sempre jogou por amor à camisa ou esporte, entretanto ele teria total capacidade de viver disso, se não fosse o mercado tão concorrido com muita desigualdade e falta de oportunidades para demonstrar o seu talento em campo.

Em um time muito bem formado, geralmente dois caiem na graça do olheiro, eles são convidados para participar de um processo seletivo, escolinhas ou entrar em um sub 4; o sonho de qualquer garoto que ama jogar futebol é de ter a oportunidade de entrar em escolinhas de grandes times, visto que de lá muitas vezes acabam saindo os jogadores profissionais, pelo treinamento e pela visibilidade dele para com os selecionadores. No sul, são dois times que as crianças sonham em jogar ou chegar perto, Grêmio ou Internacional, que aparecem no grupo 1 frequentemente e a escolinha é meio caminho andado. Não é à toa que muitos desses jogadores são levados para o exterior para jogar em grandes times, por um bom salário e acabam esquecendo do amor à camisa, apenas joga no profissional pelo dinheiro e todo aquele desempenho acaba ficando no passado. Esse é sempre o momento certo para entrar novas futuras estrelas e deixar de apenas vender camisas com um jogador famosinho. O futebol sempre foi a vida do meu irmão, eu não conseguiria imaginar uma vida sem jogos para ele e isso é algo desde pequeno, todos elogiavam ele, queriam ele nos times e inclusive ele jogava com garotos mais velhos. Muitas vezes os jogos eram apenas por diversão, até surgiram campeonatos e ele entrou sem cobrar um valor alto como muitos outros faziam para jogar, ele simplesmente queria jogar e isso era suficiente. Meu irmão costumava trabalhar de segunda a sexta, no final de semana, no sábado ele jogava com os amigos dele, algumas vezes em campeonatos, inclusive da vila e no domingo ele viajava de ônibus e depois pegava uma lancha para ir jogar no interior de uma cidadezinha, para ele compensava todo esforço e desgaste, enquanto ele ganhava R$150 e mais pastel e cerveja, outros jogadores comiam e cobravam R$400,00. Não suficiente com os jogos do final de semana, durante a semana ele corria, treinava e jogava. Essa é parte da rotina dele constantemente.

N

esse último sábado, ele acabou tendo uma lesão grave, que pode levar ele parar de jogar futebol para sempre e no momento o médico disse para ele não jogar e nem correr mais, imagino o quanto isso deve ter sido doloroso para uma pessoa que tinha os esportes como vida. O mundo dele caiu, a gente não sabia nem o que falar para ele, poucas vezes vi ele tão abatido e senti medo dele entrar em uma depressão. Ele é uma das melhores pessoas que eu conheço, do tipo paz e amor, e no que depender de mim ele não acabará assim, porque eu sou a irmã mais velha e essa é a minha obrigação. Ele havia comprado acessórios de esporte e mais Creatina para ele seguir treinando até recomeçar os campeonatos, depois da consulta com o médico, ele simplesmente guardou o suplemento, porque ele não necessitava mais tomar e ele colocou para fora toda a frustração. Não posso assistir ele acabar em uma depressão, sem tentar fazer nada para ajudar, ele sempre foi popular e teve vários amigos, um deles, é chamado de pai por motivar ele e inclusive treinar ele. Busquei o contato dele para de pedir que ele entrasse em contato de preferência para conversar com ele, para tentar motivar ele a seguir em frente, focar na recuperação e não sofrer com antecedência, pedi sigilo para quem me passou o contato e para o amigo dele, que eu pedi para conversar com ele. Não somos o tipo de família que se mete na vida dos outros e não conversamos muito pelas nossas divergências (exceto o meu pai), todavia ser a irmã mais velha trás obrigações, que eu eu vou carregar até o último dia de vida. Quando eu quebrei o braço, o médico disse que eu perderia o movimento dele e eu sofri bastante, no braço que atualmente funciona normalmente. Então, eu sei o quanto um médico pode não ponderar o seu diagnóstico alarmante e ignoram as expectativas, porque não existe um diagnóstico definitivo e muito menos deve ser antecipado. O médico foi injusto em dizer que ele nunca mais poderá realizar esportes, sendo que existe essa possibilidade e ela nunca deixou de existir, talvez temporariament

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Criado por Erika Galvão, 2024.

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