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A sociedade se diz despreparada para lidar com o estupro, ainda não sabem diferenciar a vítima e o culpado de fato, que uma roupa não é uma ameaça para ninguém e o corpo não é um risco contra os outros. Quando dizem que armas de fogo são perigosas, portanto a fatalidade só ocorre quando alguém destrava e coloca o dedo no gatilho para causar o estrago, o gatilho é a cabeça do estuprador que é o único culpado de corpo e alma. Não foi acidental, é um sádico, o estupro é a pior tortura de corpo e mente, algo inesquecível de forma traumatizante, ninguém sabe o quanto isso pode nos danificar, o pior são aqueles que tentam diminuir tudo o que aconteceu e os piores são os que tentam transferir toda a culpa para a vítima. Detesto comentários machistas e misóginos, principalmente quando escuto de mulheres, aprendi que não devo dormir com alguém medicada para evitar ser forçada ou simplesmente acabar fazendo algo mais insano ainda, ainda mais os insistentes. Muitas pessoas não compreendem de fato o motivo de eu não me sentir confortável, porque não é válido o consentimento, quando você aceita passar a noite com alguém na mesma cama e não acredito que eu seja obrigada a aceitar fazer algo que não estou no clima.
Os limites não deveriam ser violados, principalmente quando isso causa danos em terceiros, aprendi que a justiça é falha principalmente nessas questões de proteger uma mulher de criminosos, nós mulheres corremos diversos riscos, o discurso de “sexo frágil” passou uma imagem de alvo fácil e aprendi que apenas nós mesmas podemos nos defender. Não no nível a “Doce vingança”, mas algo que possa nos previnir de algo tão cruel, que mexe com a nossa cabeça e jamais poderemos recuperar essa sanidade, pureza, inocência e dignidade. Quando me refiro a proteção, não é a do príncipe no seu cavalo de puro sangue de cor branca e o dragão me protegendo do mundo, necessitamos de profissionais treinados e qualificados, embora seja uma parte desses profissionais, que não sabem lidar com determinadas situações ou sem um pingo de humanidade, e muitos acabam sendo incovenientes com a vítima. Dizem que somos todos iguais perante a lei, mas nessas situações a vítima acaba buscando justificativa pelo seu comportamento ter provocado. Desde a escola, eu escuto sobre qual roupa vestir, o tamanho do meu short, o vestido e a saia, que era exclusivamente para mocinhas, enquanto os garotos não recebiam discursos sobre roupas e a importância do respeito. Ainda diziam para as meninas se darem respeito por si, como se fosse uma brecha para garotos faltarem com o respeito, que nunca foram ensinados sobre isso.
Lembro de uma mulher que foi com um vestido curto para a universidade, então os garotos começaram a agir como animais no cio atrás dela, causou tumulto nos corredores, ela foi humilhada e na época todo mundo criticou ela, incluindo eu. Pouco importa o motivo dela estar vestida assim, em uma praia é aceitável biquínis e todos se respeitam, no entanto se fosse uma roupa íntima seria completamente diferente a história. Acredito que essa é a prova de que homens precisam de aulas sobre respeito, que vai além do biquíni ou praias de nudismo, que todas as pessoas devem ser respeitadas sempre, existe uma abordagem que menos evasiva ou como se não estivesse chamando um cachorro. Tentam justificar, o injustificável e muitas mulheres são levadas a morte por conta disso, se tornaram um alvo frequente e repetitivo. Poucos conseguem viver com isso, mas não é por questão de fraqueza, porque isso atormenta para sempre e não conseguem lidar com a própria imagem que é passada e o que sentimos, enquanto está igual um vulcão em erupção. No meu caso, eu já entrei em erupção muitas vezes, não sei como é ser violentada de forma brutal, todavia me sinto quando escuto que uma mulher passou por isso, sinto que uma parte minha está sendo arrancada. Não quero viver em um mundo assim e nem desejo colocar outro ser no mundo para ser vítima e muito menos para causar dor, ninguém cria um filho para ser um estuprador e qualquer um pode ser repentinamente ou uma parte do cérebro faltando. Lamento pela família que perdeu o controle sobre o acusado e tudo deu errado, mas lamento mais ainda pela vítima que não teve opção alguma perante a situação horrível.
Recentemente uma moça de 23 anos foi estuprada, sofreu mutilação, agressão e foi morta com pedradas na cabeça até a morte. Ela conheceu ele pessoalmente junto com os seus amigos, nada planejado até então, ela o convidou para ir na casa dela e ela nunca voltou para a própria casa, aquela criatura sádica matou ela brutalmente em meio de umas dunas. Era para ser só mais um encontro casual, que era um cara aparentemente normal e nada inofensivo para acompanhá-la. Encontraram uma nova expressão para esse tipo de situação, estupro culposo, pois todos buscam isso nas inúmeras situações, pois a mulher sempre é sensualizada, exceto quando é um cargo superior em alguma área, as mulheres recebem um salário mais baixo do que os homens, apenas iludem com uma falsa igualdade e sempre acaba sendo culpa de quem passa por isso sem ter opções. Parece que vou ter um aneurisma ouvindo as pessoas dizendo coisas desumanas e o pior é que muitas mulheres pensam assim, infelizmente. Pior do que homens machistas são as mulheres apoiando o machismo e se dizem antifeminismo, as piores pessoas que poderiam existir, que não reconhecem os próprios direitos adquiridos ao longo do tempo, ultrapassou todos os padrões misóginos e que todos nós merecemos ter voz. Muitos tentam impor limites ao que é estupro ou preliminares, ou tentam camuflar a situação para se autofavorecer e saírem impune de tudo. Aprendi que na “justiça” brasileira os menos favorecidos são estupradores, enquanto para ricos é um “mal entendido” ou “estupro culposo”, sinto medo de sair e ainda mais esse ano que eu estudaria de noite, era perfeito o horário, menos com o ônibus e a parada do ônibus, além de ser produtivo e passar mais rápido, durante a noite. Sinto muito medo de passar por qualquer evento do tipo ou ser assaltada, também sinto um medo que todas as mulheres ou responsáveis de crianças. Precisamos nos unir para lutar contra isso para nos proteger ou simplesmente ter um pouco de empatia.
Ninguém deve passar por isso sozinha, pois é algo muito grande para se carregar sozinha e principalmente por você não ser a única que passou por isso. Depois que coloquei isso para fora, senti uma imensa paz de espírito, foi difícil encontrar palavras para descrever tudo o que aconteceu. Nem sempre recebemos uma solução de cima, então devemos correr atrás para conseguir, afinal não irá cair do céu igual o maná.
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