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Mente sombria


Olá, já fui chamada de muita coisa e a pior delas atualmente é realmente saber que estou sendo burra e trouxa. A menina que trouxe vários 10 para casa e conseguiu entrar em um dos cursos mais disputados da instituição, não consegue deixar o passado no passado e isso é uma tortura. Sou uma completa bagunça, todo dia é uma nova loucura, provavelmente sou bipolar, pois têm dias que preciso só de um pouco de adrenalina e sentir cada pulsação acelerada. O pior é eu continuar errando, já que tudo é previsível e do nada resolvo viver, minha mãe nunca sabe como reagir e muitas vezes pensa que estou me arriscando sem motivos. Eu carrego um medo tão grande e tão desconhecido que ninguém imagina, consigo ver alguém que eu amo morrendo na minha frente ou na minha imaginação, algo que nunca aconteceu e ao mesmo tempo é tão real.

Desde criança, eu tenho essas alucinações que me atormentam dia após dia, quando contei para a minha psicóloga, ela sugeriu na mesma hora que eu contasse toda a verdade e o quanto esses pensamentos me atormentavam, como eu poderia dizer para minha mãe, que quando eu tinha 7 anos acompanhava ela até a parada, pressentindo que aquela seria a última vez que nos veríamos e que eu conseguia visualizar o ônibus pós acidente e tudo bagunçado ou ela nos abandonando. Eu queria ignorar aquilo, porém eu tinha medo de ser um aviso e todo mês se repetia o pensamento, o pressentimento, o sentimento, o desespero e a hora de dizer “adeus” ou “até logo”. Todo mês, eu ficava com medo de ficar órfão e o pior é ter que conviver apenas com o meu pai, que é o extremo oposto de quem eu sou, penso e as nossas ações, daí a ideia se tornava um pesadelo maior ainda.

Quando eu fiquei maior, tinha uns 12 anos, comecei a ver o meu irmão morto na minha frente retorcido na bicicleta, com muito sangue em volta, eles com vida e eu chorava baixinho, porque eu amo o meu irmão e ele ignora os riscos. É o meu irmão caçula, aquilo era um inferno e fiquei assim por muitos anos, então os meus pais resolveram adquirir um carro e voltou tudo de novo, agora imagino o carro todo amassado e o meu irmão sem vida de novo. Quando o meu pai era vendedor autônomo de porta em porta, eu também tinha essas alucinações, ele costumava vender nos piores bairros da cidade, então quando ele se atrasava ou demorava mais do que o horário de costume dele chegar, eu ficava inquieta e indo ao portão ver se ele estava vindo finalmente. Muitas vezes, já era tarde para ficar no portão e então aproveitava para assistir tudo que era proibido pelo meu pai, principalmente as novelas e a minha mãe não era como ele felizmente. A forma que eu amava a minha mãe e a forma que eu amava o meu pai, me fazia sentir remorso por não amar os dois da mesma intensidade, entretanto o meu pai era o ditador e nada se podia fazer, apenas coisas envolvendo a religião dele e fim. Como se o apocalipse fosse um conto de fadas e longe disso na realidade dos escritos.

As pessoas querem buscar uma justificativa para todas essas paranoias que me atormentavam, então começavam os sermões que eram por conta da TV, jornais e qualquer meio de comunicação. E por conta disso parei de falar sobre essas idealizações, pois ninguém conseguia ouvir apenas, sem expor os seus achismos, quando compartilho algo do tipo é para desabafar, sem mais teorias e paranoias. É cansativo, me sinto sozinha, fico calada e esta é a realidade, vivemos em um mundo onde acidentes acontecem e não podemos mudar tudo de ruim que nos cerca. Ainda comecei a ser tratada como aquela louça de porcelana da nossa bisavó que fica guardada na estante, como se fosse um museu com peças raras e eu não queria ser tratado assim, pois as paranoias são exclusivamente da minha cabeça e para isso não preciso de más notícias. Isso é horrível, pior ainda saber que isso pode acontecer a qualquer momento e com qualquer um deles, eu mesmo já me imaginei de tantas formas macabras, que passei apenas a tentar lidar com cada pensamento, com cada história, com a tragédia e por fim com a realidade.

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Criado por Erika Galvão, 2024.

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