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Modo depressivo: Altos e baixos


Eu larguei a terapia de novo, pela terceira vez e sempre é a mesma questão de sempre. Tô cansada de tocarem nas mesmas feridas que não cicatrizam, então começam a tocar na ferida e ela continua aumentando, então deixam finalmente surgir a casquinha. Até alguém arrancar a casquinha, a dor volta até nos meus sonhos, então sigo nessa questão sem respostas, sinto atração por quem não posso ficar ou que me causará dor. Parece tão fácil quando é a vida dos outros, relações são mais fáceis quando não estamos nela, isso é uma pura ilusão e quando nos aproximamos de uma logo vemos o caos que é real. Desisti de ser uma psicóloga e o fato de ir em uma me causa um sentimento de fracasso, então tenho os meus motivos para fugir e encontrei outras terapias ocupacionais, que me ajudam a focar no agora, sem precisar voltar no passado por estar de bobeira e assim posso seguir em frente. Preciso de um impulso, como se eu tivesse usando uns patins pela primeira vez, posso cair e levantar mil vezes, ou posso ficar então parada em um cenário diferente, afundando na lama simplesmente, sendo consumida por completo. Sou uma boa conselheira, visto que todos acabam voltando por motivos pessoais e do nada me transformo em uma ótima companhia para conversar, até tudo se resolver, daí as novas e antigas pessoas brotam novamente.

Quando vejo pessoas que eram próximas seguindo em frente, ultrapassando barreiras para serem felizes, sempre me pergunto o motivo de eu não superar os meus conflitos e não ter nada sólido, então vejo a maldade, não desejo amizades falsas e nem entro em relacionamentos por carência, por conta disso nunca irei ter nada sólido e só no modo casual. As pessoas se preocupam com quem irá no seu próprio velório ou se não haverá o suficiente para carregar o caixão, carreguei meus fardos sozinha e o importante é eu me libertar deles. Pouco importa o depois, porque o agora é importante, mas ao mesmo tempo sei que não é opcional viver em três modos e um corpo só para se virar. Eu consigo ver e compreender a importância do agora, mas isso não basta para uma ansiosa que precisa de um planejamento só para sobreviver sem o “e se...”, que faz parte da vida e nem sempre preciso de um motivo, pois a incerteza já pesa para quem carrega. As pessoas perguntam o motivo da minha ansiedade e depressão, mas sinceramente não sei nem quando começou todo esse caos e o processo foi longo para chegar ao tratamento, eu simplesmente tentei de inúmeras formas ser normal como todo o restante, que têm dias nublados e que tudo vai passar, mas não é assim e preciso de ajuda.

A minha psiquiatra me disse uma coisa que eu nunca tinha pensado assim, que o diagnóstico profissional dela sobre o meu quadro médico é que tenho uma depressão intensa e profunda, que piora e precisa de acompanhamento de perto. A minha depressão vai me tornar refém dos laboratórios por toda a minha vida, pela minha cabeça não produzir as substâncias químicas que me dariam certos prazeres de viver coisas simples. Significa que posso precisar do tratamento durante a vida toda ou se algum dia existir a cura vou poder largar a medicação, que é cara e só com ela levanto da minha cama. Quando disse que posso ser bipolar, por ter impulsos de sair de casa do nada, depois de passar dias em casa repentinamente, eu marco um encontro e a minha mãe diz que sou bipolar. Eu sei que posso ser realmente, mas ao mesmo tempo a médica disse que pode ser eu tentando reagir contra a depressão e tentando sentir algo novo. A minha zona de conforto é incompleta, mas de nada adianta sobreviver dentro dela apenas, eu queria ser como o restante e não a pessoa que assusta todos com suas crises de pânico. O meu irmão sempre se assusta com elas, ele não entende e não conhece o que é, eu posso ver no comportamento dele que ele está perdido e assustado. A minha mãe parece que é uma especialista, exceto quando ela coloca o medo na frente da razão, qualquer sintoma precisa ser tratado com 4 comprimidos de Rivotril no mínimo, depois é Ibuprofeno para resolver a dor e depois não consigo decidir o que fazer ou para onde ir. Esse é o meu ciclo, que nunca se inova.


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Criado por Erika Galvão, 2024.

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