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Nunca estável

Passei muito tempo da minha vida tentando salvar os outros, mas a pessoa que eu nunca consegui salvar foi eu mesma e ainda tento sem êxito. Algumas pessoas me dizem até hoje, que nunca me esqueceram, pois conversei com elas no pior momento que elas se encontravam e até os amigos abandonaram elas, algumas delas mais de uma vez e realmente elas nunca esqueceram e nem esquecerão pelo visto. Eu faço acompanhamento e tratamento já faz anos, porém nunca foi suficiente para eu receber alta ou uma diminuição na dose, muito pelo contrário, os remédios aumentam e as dosagens continuam alta. Parece que a medicina ainda não encontrou um remédio, que fosse capaz de curar a minha mente e me dar uma qualidade de vida melhor, porque ainda sinto (com menos frequência) uma angústia, que ainda continua guardada dentro de mim, então tenho consciência de que em algum momento ela irá regressar com mais força ou menos (frequentemente é assim), todavia é certo que ela sempre irá continuar voltando, igual as ervas daninhas ou qualquer outra praga, que não consigo combater totalmente. Sempre levei a sério o meu tratamento, eu nunca recusei ajuda e graças a isso obtive alguns picos de melhora, no entanto deveria ser mais contínua a melhora ou ficar estável. A depressão vai consumindo toda a nossa alma e a ansiedade vai correndo todo o meu corpo, então estou entre a cruz e a espada (embora eu nunca tenha encontrado sentido no uso dessa expressão e nem vejo semelhança com a referência).

Eu mesma já indiquei a minha médica para outras pessoas que passavam por um perrengue, que precisavam de ajuda e muitas dessas pessoas já concluíram o tratamento ou conseguiram abandonar sem enlouquecer de vez. A Doutora é uma ótima médica e pessoa, portanto jamais irei questionar a imensa capacidade de sentir empatia, generosidade, simplicidade dela, conhecimento e a importância que ela dá ao bem estar e ao diálogo. Como disse a minha psiquiatra, eu nunca estive estável e isso dói, porque parece que eu não me dediquei o suficiente para encontrar uma cura (não que ela me diga isso). A minha medicação vive mudando e em algum momento perde o efeito, daí recomeça o meu ciclo novamente e ainda escuto comentários repetitivos, como se eu estivesse assim por opção. Ninguém sonha em ser depressivo, ansioso, com síndrome do pânico, automutilação, bipolaridade, com fobia social, Burnout, autista, agorafobia e com outras síndromes. Eu planejei diversos desfechos para minha vida toda, entretanto nunca sonhei em ser uma pessoa limitada e medicada com vários medicamentos, se a indústria farmacêutica parar por algum motivo, eu irei definhar até a morte ou enlouquecer de vez. E ao mesmo tempo, eles são a minha maior esperança de um dia existir uma cura ou até uma explicação com maiores evidências sólidas para comprovar que não é frescura. Busquei tantas vezes encontrar um equilíbrio para eu progredir sozinha e um dia talvez dar ao menos pequenos passos para a cura, até hoje apenas cansei das frustrações e isso vai nos consumindo de pouco em pouco. Ninguém nunca consegue me entender ou até me ajudar, assim como um dia eu tentei ser a corda de quem um dia foi até o fundo do poço, eu ainda posso tentar trazer as pessoas que estão afundada em problemas e lágrimas lá embaixo.


Às vezes, a morte parece ser a única cura que eu conseguiria alcançar, então acabo torcendo para ela me encontrar logo e quem sabe um dia encontrarei paz e o desespero possa ser tratado em consultórios médicos. Não quero desistir, mas às vezes cansa e com o tempo as coisas vão pesando mais e mais, então acaba desmoronando e sempre parece mais difícil de se reerguer. Ninguém aprende a cair, visto que a dor ainda persiste e aos poucos percebemos que acabamos em um poço, que armazena o nosso pior lado e os nossos demônios. A paz não é tão simples de conquistar, antes de alcançá-la passamos pelo maior estresse possível, e eu nunca tive essa paz. Apenas o estresse de me sentir incapaz e impotente, a sociedade espera tanto da gente e acabamos também esperando o inesperado. Não sei se um dia isso irá mudar, também não sei, se sou ou não sou uma bipolar ou se é genético e o pior é que, se um dia eu irei me conhecer sem estar doente, passei a vida inteira negando o que estava bem na minha frente, eu posso afirmar que fui ingênua ao pensar que não haveria consequências para a minha negação.

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Criado por Erika Galvão, 2024.

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