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Houve um tempo que tudo acabava em pizza (literalmente). A primeira vez, foi no aniversário do meu irmão, empolgados e tomados pela gula, comemos até ficar mal em um rodízio com nomes e sabores que nem sabíamos de sua existência e aquilo era tão empolgante. Era uma outra época, que os meus pais tinham condições de ir com a renda deles, que a pizzaria ainda era lucrativa ao ponto de pagar corretamente o aluguel e que podíamos andar na rua durante a noite com a criminalidade não tão alta como atualmente. Em 9 de março de 2014, foi o dia que encontrei o paraíso na Terra, que também podemos chamar de rodízio de pizza e refrigerante. Éramos poucos, mas além da comida, muitas risadas e conversavamos sobre um pouco de tudo, para eu, o meu irmão e uma amiga estávamos extasiados com tudo que havia e nos divertimos. Aquela foi a primeira vez, no entanto existiram outras idas e só não sabia que a última vez poderia ser a última realmente.
Nos meus 15 anos, arrumamos uma van, fomos todos para a pizzaria com lugares reservados e próximo da nossa mesa havia outra mesa reservada para um time de futebol. Gosto da discrição ou passar despercebida para todos, então decidiram fazer uma surpresa (um pouco constrangedora), eu gelei com todos cantando parabéns, inclusive o próprio time de futebol e uma amiga da igreja dos meus pais me deu um boque de flores. Minhas duas melhores amigas na época estavam comigo, tiramos inúmeras fotos e ficamos de deboche como qualquer outra adolescente, o meu irmão caçula ainda estava na fase irritante de garoto. Aquele dia foi especial, principalmente por eu não necessitar de remédios ou avaliação psicológica, um pouco deprimida em curtos períodos, a síndrome do pânico não tinha se agravado ainda e a minha ansiedade já era caótica. Parece que naquela época, foi quando estive mais próxima da normalidade e tive duas comemorações, na pizzaria e em casa, sem a valsa ou qualquer coisa frufru de costume e eu estava menos pior das minhas crises, ri muito e conversei com todos juntos. As fotos registraram aquela data com todos presentes, que apenas envelheci e fiquei contente por tudo aquilo, por me sentir importante e nem os comentários maldosos me abalaram, tipo o meu colega que zombou da minha foto, que eu escolhi para o meu convite e adorava aquela foto. Naquela época, eu ainda conseguia sentir alguns sentimentos, provavelmente pelas minhas duas amigas que nos completavamos, o boque de rosas foram embaraçoso e ao mesmo tempo sei que eram de coração. Não queria fazer nada por ser deprimente aquilo, principalmente por toda a tradição de ser uma debutante e só topei pela pizza e o refrigerante.
A última vez que fui na pizzaria foi no aniversário da minha mãe, por milagre o meu irmão por parte de pai topou ir junto e ele mesmo com inúmeros defeitos, sempre nos faz rir com um humor pesado, principalmente quando você é a piada. As nossas barrigas pareciam imensos balões, eu e a minha amiga nos arrastamos pela calçada parecendo duas bêbadas, até a parada do ônibus, além da indigestão, tivemos taquicardia sempre que passava um indivíduo de bicicleta em uma rua vazia. Na avenida haviam inúmeras pessoas, mas acredito que a pizza que me motivava ao ponto de não sentir vontade de me atirar no chão em posição fetal e chorar. O ônibus para variar lotado, parecia que todo o meu interior seguia o embalo e a viagem foi tão demorada. Entre inúmeros altos e baixos, como qualquer adolescente normal, a minha amiga era uma vaca, que eu amava como uma irmã que nunca tive e nem terei. Vivíamos juntas lutando contra o tédio e em busca da diversão, ainda sinto falta dela e da amizade harmoniosa, todavia simplesmente precisei de um basta e não posso confiar em mais ninguém, principalmente nela. Não posso simplesmente remover elas das minhas fotos, pois significa tanto ela ser parte das minhas recordações e de um passado marcante, acredito que o final da nossa amizade foi quando nos desentendemos em certos pontos, entretanto o passado não dá para ser alterado e sigo recordando de forma inconsciente e desnecessária.
Sinto que atualmente não conseguiria ir de noite até a avenida, provavelmente teria intensos ataques de pânico, sabe quando você está vivendo certo momento intenso e que nem a morte te assusta? Frequentemente sentia isso naquela idade, a minha cara sempre esta fechada e era o meu primeiro ano no ensino médio de noite, não me dava medo, até eu receber mensagens de um ser desprezível e que conseguia me fazer sentir nojo de eu mesma, raramente digo a verdade sobre como eu estou e naquela época muitas coisas eram mal interpretadas. Os mais velhos pensam que a vida de um adolescente/jovem é resumida em: drogas, sexo, paixão, bebidas, promiscuidade, depressão, autodestruição e tudo que é diferente (do padrão exigido) acaba sendo julgado como o anticristo. Não sei nem como descrever os altos e baixos que passei naquela época, certas coisas eram mais fáceis de enfrentar por não estar sozinha, uma certa amiga era a minha metade e foi até eu descobrir que a minha metade estava podre como as demais. Com o tempo passou a ser aqui em casa o rodízio, então passou a ocorrer ajuntamentos aqui em casa, que todos adoravam e cobravam dos meus pais, porém ninguém ajudava em nada e tudo desandou na nossa vida. Hoje em dia, parece que vivi isso em outra vida, portanto foi uma das minhas milhares de fases marcantes.
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