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Propósito desconhecido

Sempre escutei: “Você é especial/diferente.” No começo, eu levava como elogio ser única, incomum e o fato de alguém me ver assim era encantador ser a menina dos olhos dos meus pais. A escola me mostrou que o diferente não se encaixava com os outros, que eu era a estranha que se isolava de todos por não ser participativa, a professora e a psicóloga me tornaram alvo delas para eu ser comum, odiava ir para a escola, porque eu não tinha amigos e todo mundo me pressionava para fazer amizades, sendo que eu não queria e não conseguia. Isso me machucava muito ser anormal, ser a criança que não conseguia fazer um simples “a”, escrevia o nome de trás para frente, pintava desenhos corretamente e nem brincava com as outras crianças por preferir ficar a sós em um canto silencioso e solitária. Passei a acreditar que tenho uma missão, que não me torna especial porque todos temos uma e toda vez que eu caí serviu de aprendizado para ajudar outros e levantar. As pessoas dizem que conseguem confiar pelo meu jeito, mesmo sem me conhecer, algumas delas me acham surreal e a única explicação que conclui foi a de que estou por um propósito e por isso algo não me deixa partir. Eu já fiz tanta coisa louca, porém nunca sofri um arranhão algumas das vezes, a parte mais irritante é eu não saber o motivo e o que devo fazer para parar de sentir essa dor e o medo constante que se tornou uma parte de quem eu sou, as pessoas nunca me compreendem, por algum motivo só me torno atrativa quando sou necessária para ajudar e não para compartilhar bons momentos. Já faz um bom tempo que deixei de ter amigas, apenas me tornei uma pessoa solitária, que se conformou em ser assim, visto que não sou para momentos festivus. Talvez esse seja um dos motivos para eu ter criado um blog, para encontrar um propósito e por não ter nenhum propósito na época. Foi difícil naquela época encontrar motivos para permanecer viva e nessa época jamais me imaginei voltando para o curso de química e me sentindo mais leve sobre a vida. Eu mudei, mas não me encontrei até hoje e isso complica mais ainda, pois não sei se um dia iria vou conseguir me encontrar, é difícil ser o tipo de pessoa que simplesmente busca uma justificativa para tudo que existe. É cansativo ser assim, pois me sinto um fracasso por não ter uma resposta e eu sempre tive uma resposta para tudo, as pessoas buscam uma explicação envolvendo entidade para explicar para o mundo que existe um propósito para a terra ser redonda e pela vida deles serem o que são. Ainda penso em psicologia, porque é algo que eu preciso e gosto realmente, ainda escuto as pessoas se abrindo sobre a vida delas, principalmente os seus segredos pelo fato de eu ser uma pessoa confiável e provavelmente eu seja, pois eu me importo com cada coisa dita e ouvir a vida de alguém que precisa ser ouvido ajuda, sou o tipo que se envolve e se coloca no lugar dos outros. As minhas amizades sempre se iniciam dessa forma, minha mãe diz que gosto de ouvir por ser fofoqueira e na realidade simplesmente me acostumei a me importar com cada palavra dita, ou sentimento reprimido que sou capaz de sentir apenas uma parte dele apenas ouvindo e muitas vezes quis alguém para desabafar, sentir empatia, sem menosprezar as minhas ações ou sentimentos, geralmente não tenho com quem conversar sinceramente e apenas a minha psicóloga conseguiu me dar uma segurança, por me levar a sério.

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Criado por Erika Galvão, 2024.

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