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Sou sempre a errada que precisa mudar, pouco importa o meu bem estar e o que eu desejo. Sempre devo sorrir mais, ser gentil, ser educada, sem sarcasmo, sem deboche, ser uma ótima amiga ou namorada, que devo ter bons modos e todo esse blabla. Fui criada no meio de garotos, o respeito sempre prevalecia e eu parecia um menino, não me encaixava nos grupos frufru, principalmente no grupo das patricinhas que usavam o restante quando era conveniente. A Regina George do Alfredo era como uma linda bonequinha, que repentinamente se transformava no Chuck, acreditava ser a melhor e demonstrava ser o tesouro dos pais, no entanto ela levava a sério o título. Como sempre fui alta montaram um perfil sobre quem eu era, só pela minha altura e rosto, eu acabei sendo tachada de repetente e quem não me conhecia era sempre uma surpresa eu ser da mesma idade das outras crianças. O meu jeito bruto é a minha arma desde sempre, haviam os garotos que eram pervertidos e eu era chamada pelo grupo das meninas para proteger as frufru, embora o desrespeito fosse imenso, jamais deixaria os guris tocarem nela e além de ensinar o “não” delas através de tapas ou tamancos. Fui trouxa por causa de uma pessoa, porém me sinto mais capacitada a viver uma vida solitária se for necessário e distante do restante, pouco importa se nasci para viver em sociedade e não sou obrigada a nada.
Prefiro ser um lobo solitário, do que viver em meio a uma alcateia deslocada e falsa, sou como eles e ao mesmo tempo sou singular com as minhas manias. Quando a pessoa se aproxima, me sinto nervosa e eufórica por não ser algo natural essa aproximação, o meu tom de voz de desprezo é por nada me surpreender mais e por tentar não me importar com tudo, embora todos saibam que eu me importo lá no fundo. Sempre lido com as coisas do meu jeito e quando envolvo outra pessoa perco o controle de tudo, se eu quebro, eu concerto e ninguém irá lutar as minhas batalhas, porque nem todos querem te ver melhor do que eles e só pensam nelas. Vivo perdida no que fazer ou desejar, tudo é relativo e passa por constantes mudanças, que nem eu acompanho. Não acredito que o futebol me torne menos mulher, quando vejo uma mulher em campo sei que também posso ser quem eu quiser, elas só estão ali por amor a camisa, porque homens jogam menos e ganham mais, nenhuma mulher deveria abaixar a cabeça para ninguém por sexismo. Ao mesmo tempo compreendo quem senti medo ou fica sem reação, pois a vítima é geralmente punida e o acusado é a vítima que foi provocada, que dá vontade de partir para a agressão por cada lágrima falsa e tenta receber um papel que jamais caberá a ele. No entanto abaixamos a cabeça por medo, somos as ariscas aos olhos dos outros, com passos longos e firmes para demonstrar convicção de alguma forma.
Queria ser transparente e projetar o meu verdadeiro eu, ao longo do tempo, as constantes mudanças que eu fiz e as causas de algumas delas, que nem eu mesmo lembro de todas as “Erika” que passei até aqui. Foi um processo longo, mas gostaria de saber quem eu realmente seria se eu continuasse tão vibrante e viva, se eu fosse uma versão melhor, normal, feliz e comum como o restante. A minha psicóloga dizia que eu era assim por tudo que passei, lidei, amadureci e me tornei alguém “especial' (na verdade sempre discordei, me sinto a estranha). Desde pequena, eu olhava as outras crianças brincando, incluindo o meu irmão e analisava tudo, porque não me sentia parte delas, principalmente quando observava o lado cruel delas, enquanto os pais dizem... “É coisa de criança”, mas não é muito diferente elas dos adultos. Não queria ser trouxa por ninguém, nem contar os meus segredos, nem queria chorar ou me machucar por culpa delas. Desejava ser invisível, não para ser dedo duro como muitos me chamavam, entretanto os que geralmente torravam eram os próprios amigos, eu vi isso inúmeras vezes e não era eu o problema, só que era mais fácil me culpar por tudo. Desejei tanto ser invisível, que ninguém me escuta ou vê nos lugares até hoje, me sinto de carne e pele quando sinto o corpo de outra pessoa parece que estou viva ou quando sinto dor.
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