
Crescer em um lar machista, é como tentar criar um peixe fora d’água, principalmente para mulheres que não são, e com o tempo você vai crescendo e vendo que o mundo não funciona assim. A pessoa mais machista que eu conheço, deveria ser um exemplo em inúmeras coisas. Quando eu era pequena, eu tinha muitos medos e um deles era de um criminoso, que eu não sabia inicialmente (e hoje, sei), mas o que mais me assustava era a forma que algumas pessoas poderiam interpretar o ocorrido, a principal pessoa era o meu pai, porque ele era a pessoa mais difícil de agradar e eu não queria decepcionar ele nunca. Com o tempo percebi que era impossível, pois ele nunca se contentaria com as minhas tentativas ou concretização, eu ainda tentava ser uma boa filha e acabei me afundando em muitos medos e compulsões, que me aterrorizavam fracassar e isso poderia ser, principalmente se o meu pai não acreditasse no que eu dizer. A parte mais dolorosa seria ouvir que eu merecia, querer que eu fizesse algo que eu não queria (como ficar com um filho da puta grotesco e felizmente sei que isso não aconteceria), eu odeio essa aberração ou provavelmente uma definição que ainda não existe para o que eu sinto de tanto raiva, eu tinha medo de uma das pessoas que eu mais admirava não acreditar em mim.
Quando eu escuto o meu pai dizendo que algumas mulheres merecem apanhar, que o feminismo é errado, que algumas mulheres morrem por culpa do feminismo, por baterem de frente com homens incapacitados de formar diálogos, que se dizem mais fortes (segundo ele) e são propensos a agredirem. Nesse momento eu volto no tempo, em que eu era pequena, eu escolhi guardar o meu maior segredo e não me arrependo. Parece que algumas coisas nunca vão mudar, para piorar existem mulheres que são antifeminismo, que ironicamente dão palestras contra quem conquistou o direito ao voto, não tem filhos ou maridos para cuidar (e serem sugadas por parasitas), ou simplesmente deixa com outra pessoa (o que é inaceitável para a família tradicional antifeminista), usufruem dos benefícios dados graças ao feminismo e não abrem mão de nada que foi conquistado pelas mulheres, entretanto atacam esses mártires. Quando eu era pequena, dentro da minha casa, o feminismo era quase um pecado e a homossexualidade era considerados um pecado grande, muitas pessoas diriam que com o tempo minha opinião mudou por conta de influências, no entanto eu nunca concordei que fosse um pecado abominável. Infelizmente, algumas pessoas nascem com o nível de empatia abaixo de zero e eu nunca busquei essa apatia. Eu passei a notar que todas as pessoas tem sentimentos e pouco importa se é pecado e isso não justifica, porque eu não tenho direito de julgar. Embora muitos cristãos que se dizem seguidores de Cristo acabam sempre julgando as outras pessoas, sendo que nem Jesus julgou, ele nunca levantou a mão para bater em uma prostituta e nunca deixou alguém apedrejar por “ela merecer”.
A parte mais sarcástica do tipo mórbida, são muitos homens antifeministas se preocupando apenas com a perda de controle e de deixar de ser a única voz na relação, nunca pensam nas mulheres que acabam sendo vítimas de relações machistas, abusivas, tóxicas, agressivas e a letalidade maior do que certas doenças letais. O feminismo é o antídoto do machismo, que visa trazer uma cura para mulheres que são dele e que muitas delas nem elas reconhecem de fato o quanto isso afeta elas. Antigamente, eu dizia que eu nunca me submeteria a uma relação abusiva, hoje, eu deixei de pensar assim e posso dizer que nenhuma mulher nasce com o sonho de apanhar de um homem, tanto prova que elas sempre listam as qualidades e acabam deixando de lado os defeitos. Eu espero nunca passar por isso e até então eu nunca apanhei de um homem (além do meu pai por fazer arte), as pessoas acabam olhando a parte que lhes convém, portanto acaba sendo invalidado os comentários de homens sobre o feminismo e até a importância dele, já que muitos acabam sendo desqualificados e completamente ignorantes sobre o assunto. Nas redações, eu sempre torço para o tema ser feminismo, porque muitos homens rodam aí dependendo do pensamento não merecem estar dentro de uma universidade, porque não tem capacidade de debater ou simplesmente defender os seus argumentos em uma folha de papel. Não conhecem inúmeras histórias de mulheres que batalharam até a morte por reconhecimento pelo seu trabalho ou busca de igualdade em uma sociedade sexista, que tratava uma mulher igual um robô com inúmeras tarefas e gerando outros seres. Como explicar a história de libertação de quase todas as mulheres para homens que sempre tiveram o poder? Muitos dizem que isso ficou no passado, mas existem inúmeros cargos que as mulheres nunca ocuparam e não por serem desqualificadas ou nunca tentarem a vaga, elas apenas não são senhores antiquados e é assim desde que o universo é universo. Não foi apenas Madam C.J. Walker que sofreu para receber reconhecimento, enquanto o sangue de outras mulheres ainda escorre pelas mãos de muitos homens, que é tão recorrente que surgiu o termo “feminicídio” e a segurança pública não sabe como frear esse índice alarmante que só cresce.
O machismo mata, a homofobia também mata e a ignorância também, sabe qual a diferença dessas três? A ignorância é opcional e ao contrário das outras, ela é usada pelo psicopata/sociopata que se intitula no direito de usar por conta do seu ódio e não é revidado pela vítima na mesma intensidade ou motivo. Ao longo dos anos, eu assisti inúmeros protestos e manifestações de mulheres e pessoas LGBTQQ+, que reivindicam seus direitos e buscam um espaço na sociedade de igualdade aos demais, eu nunca ouvi falar de uma manifestação dessas pessoas que matou opositores ou vitimizou alguém que pensasse diferente, é difícil compreender quem não consegue ver isso e a diferença entre esses comportamentos e ações. Ainda criticam o direito dessas pessoas de saírem nas ruas em busca de respeito, ainda usam como vítimas crianças que crescem em lares reprimidos de diversas formas e demonstram desrespeito ao desmerecerem a igualdade buscada. Parece que vivemos em uma sociedade cercada de pessoas limitadas que vivem na bolha, e só dizem ou veem o que querem, mesmo sendo óbvio e quase que a verdade dando na cara delas, elas persistem e insistem em defender o indefensável. Ouvir que as mulheres morrem por culpa do feminismo e não do machismo, é exatamente a frase que a minha avó sempre usa e nesse caso ela é perfeitamente aplicada, “é como prender um cachorro com linguiça e acreditar que ele não vai comer a linguiça”, por quê? Como pode algo que busca defender, conscientizar, valorizar e cultivar o amor próprio, como pode algo assim ser tão maléfico? Não faz sentido algum, a única explicação é que homens machistas ou até mulheres não querem admitir que são machistas, e negam o que está bem na cara delas(es). Acredito que existe uma coisa mais injustificável, que são mulheres defendendo o machismo e criticando o feminismo, mas vivem os benefícios conquistados graças ao feminismo e eu poderia dizer que é irônico, todavia é lastimável alguém ser tão limitada.
Nem todo mundo sonha em casar e ter filhos, eu mesma dizia isso desde criança e digo até hoje, não existe nada de errado nisso e não nasci exclusivamente para isso, aliás se tivesse nascido, eu faria questão de mudar isso e parar de ouvir que eu nunca seria feliz sem isso. Essas pessoas eram as mesmas que pareciam reféns em uma relação completamente infeliz e mesquinha. Muitas pessoas dizem que o feminismo estraga relacionamentos e está extinguindo famílias, só que essas pessoas são tão cegas, que não conseguem ver a própria realidade que vivem, acredito que muitas pessoas seriam mais felizes se tivessem se divorciado de casamentos completamente desgastante e depreciativos, que sugam toda a sua vontade de viver e acabam morrendo presas. Admirando relações longas e duradouras, mas o que elas não vem são as noites em claro chorando e sentindo nojo da própria vida, eu não admiro essas relações. Admiro aquelas pessoas que têm a capacidade de largar fora de uma pessoa que pode ser a definição de infelicidade com pernas, além de aguentar inúmeros julgamentos, críticas e comentários desnecessários. Sobre ter filhos, existem inúmeras crianças que estão em busca de um lar, independente de ter duas mães ou dois pais, ou apenas um deles, eu prefiro mil vezes ter um filho conscientemente adotado, do que jogar mais uma criança no mundo que irá precisar de tratamentos psiquiátricos por doenças genéticas e muitos acabam esquecendo isso. Ainda escuto de homens que é preciso ter laços de sangue com uma criança para amá-la e cuida-la. O mesmo homem que negligenciou o próprio filho ou acreditam que uma pensão compra a admiração e o título de papai, os piores exemplos são aqueles que mais opinam sobre algo que eles desconhecem e é mais fácil. Eu tenho certeza que muitos homens não aguentariam um mês no corpo de uma mulher, quando eu era criança assisti várias vezes um filme nacional, que o homem e a mulher trocam literalmente de corpo e dá para imaginar o quão engraçado ele é e realmente seria daquele jeito, principalmente quando a menstruação descer. Eu faria questão de colocar vários homens nessa troca, porém ao mesmo tempo creio que desvalorizaria e seria injusto as mulheres receberem um corpo escroto cheio de ódio para desintoxicar de todo mal. O pior é que esses grandes homens não tolerariam tanta discriminação, sangramentos mensais e dor. Só assim encontrariam sentido no feminismo e veriam que não é mimi.
Comments