Vagando

Preciso conversar com a minha médica urgentemente, mesmo tomando a medicação é com não tomar, me sinto muito deprimida, solitária, impulsiva, uma grande angústia e estou fazendo coisas que eu não faria. Estou tão ferrada, sinto tanta vontade de não estar viva, ao mesmo tempo não sinto vontade de tentar contra a minha vida e nem quero viver, se eu acordar, tanto faz em alguns momentos, me sinto anestesiada, no começo foi bom, mas agora parece que perdi o autocontrole e as vontades. Sinto tanta vontade de chorar, porém não consigo, é como se os meus olhos estivessem secos, odeio essa sensação e me sinto um nada. Tento ser forte para parecer bem, até eu estou cansada de fingir e a minha vontade é de nunca mais sair da cama. Não tenho tomado os meus remédios direito, para tentar sentir alguma coisa que não seja isso, entretanto parece que é algo meu e não culpa do remédio, essas sensações são extremamente exaustivas e parece que sou um nada tentando ser algo. Se me perguntar: quem eu sou hoje? Provavelmente diria que não sei e nem sei como cheguei até aqui, a minha vida virou um ciclo de estágio e dormir, e eu tentando me motivar com o diploma que irei receber, mas pouco me importa na verdade. Nada me anima, eu sinceramente quero desistir de tudo, estou tão desesperada que procurei pessoas que não deveria para tentar ver se isso me anima e percebi que não, então qual é o sentido de tudo?

Até amizades coloridos que já acostumei, me chamam, não sinto vontade, então eu invento desculpas e acabo esperando isto passar, mas nunca passa e continua existindo depois de dias, como se fosse o meu inferno e essa fosse a minha tortura. Não ligo para o que os outros vão pensar e dizer, já é mais do que suficiente o que eu penso e como eu me julgo pelas minhas ações, eu não sou feliz, nem estou perto de estar e só queria conversar com a minha médica para encontrar uma solução, que me deixasse mais disposta. Enquanto isso fico no meu quarto tentando ouvir alguma coisa, que não seja os meus próprios pensamentos, não consigo e nem preciso me machucar, já sou desastrada por natureza, então apenas tento vivenciar a dor física e fingir que a minha mente esta sã. Eu não sei o que eu quero ou o que eu costumava querer, me importo tanto com as pessoas que eu nem conheço, que acabei sendo negligente comigo mesmo e isso não foi justo comigo, o mundo parece que pisa na gente e que nós somos tão pequenininhos, substituíveis e tão vazios. Eu queria um remédio que me deixasse feliz, que me fizesse sentir viva e disposta, mas nem um remédio é milagroso. As pessoas são tão egoístas, mesquinhas e filhas da p***, que me causam nojo e são cansativas. Pensam que uma foto é suficiente para me conhecer completamente, o pior é que pensam que quero atenção desse tipo e eu realmente quero que eles se fodam, mas por um lado tenha certeza de que eles são e estão pior do que eu, tipo ver uma foto que causa atração neles e não saberem nem elogiar uma mulher. Dizer que quer comer ela, não é elogiar e muito menos faz a mulher se apaixonar. Não importa a roupa, eles nunca cansam e sempre rastejam igual a um saco de batata, exceto pelo fato das batatas serem úteis pelo menos e eles não, nem deveriam se reproduzir e o pior é que nem uma mulher deveria ficar com eles, já que serão eternas cornas e se eu abrir a minha boca, muitos relacionamentos caem por terra. Entretanto não é problema meu, por um tempo pensei que fosse, que eu deveria ser sincera, eu gostaria de saber se fosse comigo e então percebi que ninguém liga.

Talvez eu deveria ser mais sincera, eu me sentiria mais viva e ao mesmo tempo seria atacada por muita corna inconformada, creio que isso é mais triste e patético do que eu mesmo me sentindo um nada. Pelo menos eu sei que é a doença, já para elas não existe uma desculpa, é extremamente assustador e desmotivador ficar presa. Quando a medicação chega nesse ponto comigo, parece que estou lá no fundo do poço, sem esperança e sem resgate algum, como se eu fosse um caso sem solução, e ainda retruco com a minha mente, que existem tantas variedades de remédios e que tudo vai progredir mais ainda. Me sinto tão cansada e com vontade de me jogar no chão, eu simplesmente não precisaria mais fingir, ser sincera comigo mesma e assumir que não estou bem, que preciso descansar, que preciso me tratar e encontrar um novo rumo para segui-lo. Por que não sou normal? Por que não consigo ter paixões saudáveis como o meu irmão? Por que não consigo ficar estável? Eu não aguento mais, eu não quero mais ficar insistindo, eu quero ser livre da minha mente! Quando a indústria farmacêutica vai conseguir criar um tratamento eficiente e com poucos efeitos colaterais? Estou perdendo os melhores anos da minha vida, inventando desculpas e ficando deitado no sofá ou na minha cama esperando os dias passarem, sem um propósito de vida e acabo apenas sobrevivendo. Os meus bens mais valiosos são a minha família e os animais, o restante é passageiro e egoísta. Eu queria tanto chorar enquanto dígito esse texto, mas só consegui fazer uma lágrima rolar e nada mais, ultimamente estou feliz com a opção de poder ouvir música no meu quarto, enquanto fico deitada no escuro e podendo ser sinceras.

Às vezes, parece que me esforço tanto para me tratar e que o retorno é tão pequeno, todavia sem a medicação, eu estaria vegetando, me machucando, gritando, chorando e até outras coisas piores que iria adquirindo com os surtos. Morreria de uma forma deplorável e acabaria com a vida da minha mãe, as vezes a gente acaba machucando as pessoas que não gostaríamos e nem deveríamos, porque é injusto depois de tudo que ela faz e por muitos motivos sinto orgulho dos meus pais. Você acredita em propósitos? Não acredito que a minha depressão tem um propósito, porém tenho que acreditar que a vida tem um propósito, que preciso sobreviver para saber. Alguns desistem sem saber o seu, eu quase fui uma delas e como toda boa curiosa, eu não pude ignorar e aqui estou. Odeio aquele tipo que se ferra, daí sempre coloca que é uma divindade que ama ela, tipo Ló, e por isso detesto esse tipo pessoa que romantiza as catástrofes ou um suposto amor doentio, do tipo que ele me bate, porque ele me ama e assim somos ensinadas erradas. Não consigo ser assim, o meu propósito não envolve o bem ou o mal apenas, acredito que é um conjunto de fatores com pesos diferentes, como escolhas, sorte, emoções, sentimentos, doenças e entre outras coisas que podem serem inesquecíveis. Quando a minha cadela fica parada na minha frente me olhando fixamente com os olhos brilhando e as pupilas dilatadas, me sinto única e tão amada. Ou quando me quebro ou preciso de algo que ela pode me dar, eu recebo e sei que é muito difícil conquistar tudo o que temos até aqui.