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O primeiro carnaval, a gente nunca esquece, ao contrário dos adolescentes rebeldes que querem distância dos pais, enquanto pagam de adulto, os pais surtam com os perigos e a falta de maturidade. Alguns pais não ligam mesmo, mas não foi o meu caso e o meu pai ainda não sabe, no entanto a minha mãe foi suficiente me mandando dez mil mensagens e a amiga dela me supervisionando como se eu fosse uma menina de 12 anos, eu voltei no tempo perdido. Nunca vi uma pessoa que amasse tanto o carnaval, ela já desceu do carro dela pulando e segurando a minha mão, eu completamente desajeitada e perdida, fui levada ao centro do bolo, o fervo. Eu não sabia como me mexer, sem me sentir um boneco de Olinda e não sabia como me mexer de forma ordenada e descontraída. Ao contrário do social da igreja, que era como pular carnaval, era um grupinho pulando no centro e ao redor os outros assistiam, no carnaval é todo mundo descontraindo, das crianças até os idosos. Uma mulher de 96 anos é a rainha, com uma cadeira perto, uma bengala e ela ainda dançava, enquanto a filha dela estava apavorada e com medo dela cair, porém as duas se divertiam e as crianças as futuras sucessoras corriam todo lado, pulando e brincando.
As pessoas demonizam tanto o carnaval, no entanto não é nada disso, é diversão e o carnaval é feito por quem participa, o livro arbítrio e pela liberdade, que torna toda a folia algo autêntica e não foi nada como me disseram. As pessoas falam tantas coisas e rotulam algo que desconhecem, obviamente existem excessões e casos de todos os lados bons e ruins. Não haviam tantas pessoas, apenas uma criança que se perdeu, mas sem brigas e nem nada pesado, além de haver policiamento e uma garantia de uma certa proteção. Alguns levaram equipamentos de casa para o "ziriguidum", batucavam desde cedo, o povo aumentava e 21h:30 começou o bloco, um carnaval de vila é simples, mas é movimentado e animado. Quando o bloco começou com as músicas, elas eram diversas e muitas de outra época, o melhor são as marchinhas clássicas que eram animadas. Esse é um lado do carnaval que poucos falam, o samba não era predominante, não era igual ao da tv e as escolas de samba, a roupa, caracterização, os enfeites, detalhes e os carros alegóricos eram inexistentes. A estrutura é completamente diferente, o ritmo também e principalmente a união de toda uma única comunidade por amor ao carnaval e principalmente com respeito, não é uma competição e sem um grande investimento, apenas o empenho de todos para conseguir algo. Alguns simplesmente fazem acontecer pela paixão, até mesmo a banda, além de sempre lembrarem da história e daqueles que marcaram diferentes épocas, inclusive a da minha mãe e entre outras, quando ela curtia com a minha dinda.
A pessoa mais alegre era com certeza a minha amiga, que pegava na minha mão para pular, me puxava para o bolo e até conversava com o meu amigo, que aliás mesmo com todas as contra indicações veio até uma vila pequena. Ao invés de ir na cidade dele, ele veio até o núcleo do núcleo da minha cidade para aproveitar e me conhecer, enquanto a minha amiga parecia conhecer ele mais do que eu com o jeito dela. Todos apostaram que eu não ia aguentar e fizeram um mutirão para se caso eu surtasse, enquanto eu sentia medo de estragar o carnaval de alguém que ama e é fascinada, eu estava muito empolgada. Senti tanto medo pelo que me disseram, de a minha mãe sair sozinha para me buscar se caso, eu ficasse mal, de eu encontrar o demônio que fodeu com a minha mente ou de um novo demônio na minha vida. Eu sempre me senti desconfortável e com medo de sair no lugar que eu cresci, entretanto pela primeira vez em muitos anos, eu me senti segura e parte do lugar onde vivo, da história, tradições e parte de toda a comunidade. O meu amigo por ser mais alto do que eu, me deu segurança de pular, a minha amiga começou bebendo para aguentar até o fim no ritmo. Esse é o meu plano para o próximo pós carnaval no sábado, beber um capeta, depois dançar e pular até cansar, para demonstrar o meu eu mais interno possível, sem me sentir envergonhada, pressionada ou reprimida. Ainda preciso aguentar pessoas que insistem em criar uma rivalidade inexistente, como se eu me importasse com o que faz ou pensa, tudo por conta de macho, que é tudo para ela e o restante estão ali para se divertir e muitas vezes precisei simplesmente dar as costas para manter a paz e o sossego. Uma problemática pode ir ao carnaval, respeitando o próprio limite, perdi muito carnaval, por causa da igreja e por eu não estar preparada, todavia dessa vez foi diferente e estava pronta para tentar.
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